O Flamengo acorda, os paulistas dormem e Sampaoli dispara
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Após duas derrotas seguidas, eu sabia, fatalmente ele apareceria. Não deu outra. A tardinha da última quarta-feira ia caindo, na minha Ponderosa, quando os cães começaram a latir furiosamente. Havia alguém no portão. Desci a ladeira que leva à entrada da casa e lá estava o monstro, já brincando com o Rin Tin Tin, o pastor alemão que comanda a guarda do meu sítio em Itaipava e sabe-se lá o porquê o adora.
—Chefia, vamos ver este jogo juntos! O momento é grave. Muito grave.
Sim, era o Bagá. E, curiosamente, o tresloucado torcedor do Flamengo mostrava-se mais comedido que eu:
— Você anda muito radical, meu amigo. Querer mandar o Dome embora com apenas dois jogos é demais até pra um alucinado como eu — provocou-me, enquanto entrava, já se dirigindo à cozinha para apanhar umas cervejas e uns petiscos, na geladeira.
— Mas, Bagá, o cara teve a petulância de desmontar o sistema do Jesus em dois jogos! E ainda botou o Arrascaeta no banco! — me defendi, furioso.
A que ponto chegamos! Quando me dei conta, o Bagá era a parte mais ponderada da discussão! E com o seu jeitão sutil, digamos assim, ele me convenceu a dar ao treinador catalão mais um jogo de crédito.
— Deixa de mimimi e vamos ver, hoje, chefia. Tenho informações seguras de que o elenco chamou o espanhol na chincha, lá em Goiânia, e hoje será bem diferente.
Rolou a bola no Couto Pereira e o que se viu em campo confirmou a tese do ciclope. O Flamengo voltou a jogar num esquema tático bem semelhante ao usado em 2019 e no primeiro trimestre de 2020 e, mesmo desperdiçando várias boas oportunidades para marcar, logo se pôs em vantagem, que acabaria mantida até o final. O campeão brasileiro, enfim, vencia pela primeira vez, na defesa de seu título.
— O cara (Domènech Torrent) pisou na bola, sim. Mas já o recolocaram nos trilhos. Daqui pra frente, vai embalar! — vaticinou o colosso de ébano.
Tomara que ele esteja mesmo prenhe de razão. Porque o Atlético Mineiro de Jorge Sampaoli já botou seis pontos de frente e começa a jogar um futebol impressionante, exatamente, como o Flamengo fez no ano passado.
— Menos, chefia, menos. O careca argentino é bom, mas o nosso elenco ainda é melhor. O campeonato é longo e vamos chegar — apostou o gigante rubro-negro.
Não tenho tanta certeza. Até porque, ao contrário do Flamengo, que disputará Libertadores e Copa do Brasil, simultaneamente, o Atlético Mineiro poderá se concentrar apenas no Campeonato Brasileiro.
Bagá, entretanto, não se mostra preocupado:
— Se ganharmos de novo a Libertadores, o resto é o resto — disparou.
Para conquistar novamente a América, porém, Domènech precisará ajudar e não atrapalhar. Esse Flamengo multicampeão tem um jeito próprio de jogar, que só deve ser modificado devagarzinho e com muito treinamento. Foi isso, aliás, que os jogadores lhe disseram, de forma franca e firme, na reunião em Goiânia.
— O negócio, neste momento, não é mexer taticamente, mas apurar a forma física e técnica de Gabigol, Bruno Henrique e Gérson — diagnosticou, com precisão, o monstrengo da camisa rubro-negra esfarrapada. Essa turma deu mole durante a parada, por causa do "corona".
Sábio, Bagá. Que o Dome pense da mesma maneira. Eu sigo com o pé atrás. Pelo menos até o confronto com o Grêmio, na próxima quarta-feira.
Desastre paulista
Se o início do trabalho do catalão Domènech Torrent foi assustador para os rubro-negros, o que dizer do que vêm fazendo Vanderlei Luxemburgo, Fernando Diniz e Tiago Nunes, à frente de Palmeiras, São Paulo e Corinthians? Deixo de fora o Santos, porque Cuca mal assumiu e o elenco de que dispõe é mais fraco.
Que futebolzinho xexelento está jogando o Trio de Ferro! O Verdão é um bando perdido em campo; o Tricolor Paulista, uma nova versão do "arame liso" de Fernando Diniz, não machuca ninguém; e o Timão, uma variante piorada do modelo defensivo de Fábio Carille (que pelo menos era vitorioso).
Não dá nem pra dizer que os paulistas estão melhores que os cariocas — onde apenas o Flamengo se destaca. O futebolzinho que a turma de São Paulo vem jogando está à altura de Vasco, Fluminense e Botafogo, que contam com elencos muito mais fracos e baratos. Campeonato nivelado por baixo, a gente vê por aqui!
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