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Renato Mauricio Prado

Um alucinado mamute solto na sala do Fla

Domènec Torrent, técnico do Flamengo, cumprimenta Vagner Mancini antes de partida contra o Atlético-GO - Alexandre Vidal/Flamengo
Domènec Torrent, técnico do Flamengo, cumprimenta Vagner Mancini antes de partida contra o Atlético-GO Imagem: Alexandre Vidal/Flamengo

12/08/2020 22h34

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Uma premissa básica na escolha do substituto de Jorge Jesus era não modificar bruscamente o vitorioso estilo de jogo implantando pelo técnico português. Idealmente, mantê-lo, aperfeiçoando, aos poucos, um detalhe aqui, outro acolá. Contratado, o catalão Domenèc Torrent chegou dando entrevista ponderada, na qual garantiu que não se portaria, palavras dele, "como um elefante na sala" - ou seja, não sairia quebrando tudo em volta. Agradecida, a torcida rubro-negra respirou aliviada.

Vã ilusão. Já na primeira partida, contra o Atlético Mineiro, o ex-auxiliar de Pep Guardiola inventou uma linha de cinco atacantes, no segundo tempo, sem deixar em campo nem sequer um armador para alimentá-la. A bizarrice tática não impediu a derrota por 1 a 0. A primeira no Maracanã desde o Brasileiro do ano passado.

Veio o segundo jogo, contra o fraco Atlético Goianiense, e o mínimo que se esperava era que o time rubro-negro pudesse reencontrar o seu futebol. Pois sim. Dome inventou uma linha de zagueiros com Rodrigo Caio na lateral-direita (e Rafinha no banco), sacou Arrascaeta e colocou Vitinho em seu lugar. Pior: grudou Bruno Henrique na ponta-esquerda, enfiou Gabigol entre os zagueiros e prendeu Vitinho na direita. Coisas do tal "jogo posicional" do qual é adepto e que prometera ir implantando bem aos poucos no rubro-negro.

O resultado foi desastroso. Desde o lance inicial, a zaga rubro-negra se mostrou uma peneira. Levou um baile do ataque de um time muito mais fraco e que teve desfalques de última hora por causa da Covid (perdeu dois atacantes titulares). E mais, não atuava há mais de 100 dias. Um baile, repito e reforço. O primeiro tempo terminou 2 a 0 (os goianienses ainda tiveram um gol anulado) e poderia ter sido bem mais. O time dirigido por Vagner Mancini passeou no gramado.

Após o intervalo, Rafinha entrou na lateral-direita, Pedro substituiu Vitinho, Arrascaeta foi colocado no lugar de Éverton Ribeiro, mas o estrago estava feito. Os jogadores rubro-negros já não sabiam mais se jogavam da forma como estavam acostumados nos tempos de Jesus ou se se preocupavam em guardar as tais posições fixas defendidas por Torrent.

E, ao final do fiasco e de mais um revés, a questão mais importante deixou de ser o resultado da partida, mas o futuro do Flamengo sob as ordens do catalão, que chegou prometendo não ser um elefante na sala e se portou como um mamute aprisionado numa cristaleira, dando assustadoras demonstrações de inabilidade, para não dizer pouca inteligência.

Domenèc Torrent não conhece (nem poderia conhecer) o elenco que comanda. Querer que os jogadores do time campeão brasileiro, da Libertadores, da Supercopa do Brasil, da Recopa Sul-americana e do Rio modifiquem radicalmente, e da noite para o dia, a forma que vinham jogando, com enorme sucesso, para se encaixar, como peças de totó (pebolim, Fla-Flu), em seu esquema, trata-se de uma baita estupidez.

Escravizar atacantes rápidos e mortais, como Gabriel e Bruno Henrique, em posições fixas, é uma ideia tão tosca que nem o mais limitado dos treinadores daqui seria capaz de imaginar. Sacar Arrascaeta do time, após um único jogo, e trocar Éverton Ribeiro de posição, idem. Deslocar Rodrigo Caio (o melhor dos zagueiros de área) para a lateral, outra rematada besteira.

Não são os jogadores do Flamengo que, como robôs, têm que se adaptar ao esquema predileto de Torrent, mas ele que precisa entendê-los e construir a melhor forma de continuar a fazer esse timaço seguir vencendo. Para isso foi selecionado e contratado. Não é possível que só saiba treinar e jogar de uma única maneira. Porque se assim for é melhor que Marcos Braz comece a procurar, rapidamente, outro treinador.