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Renato Mauricio Prado

As planilhas da discórdia no Flamengo

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Imagem: Divulgação

14/05/2020 04h00

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Raposa felpuda do Flamengo me enviou as planilhas originais das premiações do clube pelas conquistas do Campeonato Brasileiro e da Libertadores. São aquelas que criaram um baita mal-estar na delegação, nas vésperas da final do Mundial, em Doha, quando Landim, Bap e o CEO Reinaldo Belotti resolveram cortar substancialmente as gratificações dos funcionários mais humildes, por considerar um absurdo que alguns fossem ganhar muitas vezes o valor de seus baixos salários. Nessas planilhas não constam os prêmios dos jogadores.

Os cálculos foram elaborados pelo departamento de futebol rubro-negro, utilizando critérios estabelecidos desde o primeiro ano da administração Bandeira de Mello, quando estavam juntos todos os integrantes da Chapa Azul original (ou seja, inclusive os atuais dirigentes).

Detalhe: tão logo assumiu, a gestão Bandeira, com Walim, Landim e Bap extremamente atuantes, quis implantar um sistema de prêmios que se limitaria aos jogadores. Diante do mal-estar no departamento de futebol, acabaram aceitando estender o "bicho" a todos, criando o modelo que estava em uso até as conquistas do Brasileiro e da Libertadores (70% da premiação para os atletas, 30% para os demais funcionários).

No início de 2019, a diretoria anunciou que pagaria R$ 33 milhões pela Libertadores e R$ 28 milhões pelo Brasileiro. A planilha com os valores mais altos, portanto, é a da Libertadores (que rendeu aos cofres rubro-negros cerca de R$ 86 milhões, pagos pela Conmebol) e a outra, do Brasileiro (que garantiu R$ 33 milhões pagos pela CBF).

Nas premiações de Jorge Jesus e de sua comissão técnica há sempre uma observação de que deveria ser pago o "individual contratual". O técnico tinha a garantia de 1 milhão de euros caso conquistasse o Brasileiro e 1,5 milhões de euros se ganhasse a Libertadores. A cotação do euro, para os cálculos, seria sempre R$ 4,40. O treinador teria faturado ainda mais 1 milhão de euros se tivesse vencido o Mundial e mais 800 mil dólares, se triunfasse na Copa do Brasil.

Também por contrato, seus auxiliares diretos faturam, no máximo, 5% de suas premiações - no caso do Brasileiro, R$ 220 mil por cabeça e no da Libertadores, R$ 330 mil. As premiações da turma de Jesus são pagas sempre livre de impostos, exigência feita também em contrato.

Os valores constantes nas duas planilhas são brutos. Exceção feita aos portugueses, o Flamengo desconta, no pagamento, 43%, a título de impostos e taxas. Exemplificando, com a maior premiação, fora a dos portugueses, e que não sofreu cortes posteriores: O diretor executivo Bruno Spindel recebeu R$ 432.660 pelo Brasileiro e R$ 789.868 pela Libertadores. Total: R$ 1.222.528. Descontados os 43% (R$ 525.687) embolsou líquido R$ 696.841.

Já funcionários mais humildes, como o recentemente falecido massagista Jorginho (o mais antigo empregado do clube), tiveram as premiações reduzidas drasticamente. Em alguns casos, a um terço. Jorge, pela planilha original deveria ter recebido um prêmio bruto R$ 43.190 e líquido $ 24.439 (por causa do desconto de 43%). Acabou levando apenas R$ 8 mil, sob a alegação de que "não fazia sentido pagar quase cinco vezes o seu salário", que era de R$ 5.600 bruto.

A turma do andar de cima, descrita como "Diretoria e gerências", não sofreu nenhuma redução nos seus prêmios. Bruno Spindel, Paulo Pelaipe, Márcio Tanure, Fábio de Jesus e Carlos Noval embolsaram a soma dos prêmios previstos nas planilhas originais (descontados os 43% de impostos e taxas, determinados pelo financeiro). O gerente de futebol Gabriel Skinner, primo de Bap, também escapou da tesoura. Todos os demais prêmios foram substancialmente reduzidos. Em alguns departamentos foi pago apenas um salário e meio como gratificação pelos títulos conquistados no ano de maior faturamento da história rubro-negra.

Eis as planilhas: