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Renato Mauricio Prado

Renato Maurício Prado: De Jesus para Tite

Alexandre Vidal/Flamengo
Imagem: Alexandre Vidal/Flamengo

14/10/2019 04h00

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Esse é um texto de ficção. Mas, cá entre nós, bem podia ser real...

Jorge é português e adora futebol. Gosta tanto que às nove horas de domingo estava à frente da TV, para assistir ao amistoso mequetrefe da seleção brasileira contra a Nigéria. Viu atentamente os 90 minutos, mais os acréscimos dos dois tempos, e não gostou nada. Por isso, resolveu mandar um e-mail para o companheiro Adenor.

"Caro amigo, espero que essas mal traçadas linhas lhe encontrem em perfeitas condições de saúde. O mesmo, porém, não posso dizer de seu time. O que está acontecendo? Você tem à disposição um dos mais talentosos elencos do planeta e só consegue fazê-lo jogar essa bolinha murcha que estamos vendo? Como é possível? Nem dá para acreditar.

Aqui do meu lado, as coisas andam de vento em popa. Muita gente me acusa de só estar conseguindo sucesso por ter uma autêntica seleção nas mãos e até concordo, meu time é bom. Mas, e o seu? Eu, por aqui, tenho sido obrigado a jogar com meio time reserva — inclusive por sua causa, não se esqueça! E sigo ganhando meus joguinhos, encantando a torcida e me distanciando dos adversários. Já são oito pontos...

No último domingo, contra um adversário dos mais difíceis, na casa deles, onde tradicionalmente temos enorme dificuldade para vencer, entrei sem quatro titulares e ainda perdi um quinto no intervalo. Sofremos, é verdade, mas mantivemos a pegada e ganhamos por 2 a 0. Como, então, vocês não são capazes de derrotar os africanos em dois jogos? E ainda perderam para os peruanos...

Quando você se dará conta de que vários dos jogadores da sua panela, desculpe, quero dizer, de seu time base, já não são mais nem sombra do que foram? Sua zaga é lenta, seus volantes passam a maior parte do tempo lá atrás, trocando passes pros lados e seu ataque não cria quase nada. E o Philippe Coutinho? Até quando você vai acreditar que ele pode ser o armador do time? Já deu, né?

Não quero me gabar, mas, completo, o meu meio-campo é mais objetivo que o seu. E isso nem tem a ver com a qualidade técnica dos integrantes de cada um, mas com algo que, me parece claro aqui de longe, a sua equipe perdeu o prazer de jogar, a vontade de vencer, em suma, o tesão!

Na entrevista coletiva, aliás, deu pra sentir que seu ânimo também já foi pra 'cucuia'. Que cara de velório era aquela? Parecia um ator canastrão tentando fazer drama em novela mexicana.

Vamos lá: o Firmino do Liverpool é muito melhor que o da seleção; o Arthur do Barcelona, idem; o Gabriel Jesus, bem esse é banco no Manchester City e o seu xará aqui é muito superior; o Daniel Alves não joga mais na lateral; o Marquinhos é volante na França; o Thiago Silva já está com o prazo de validade vencendo — vê que nem o PSG fala mais em renovar seu contrato. Estás perdido, amigo!

E o Neymar, hein? Esse é um caso à parte! É tão claro que você, com sua superproteção na seleção, só o faz piorar. Sério, mesmo, quando chegar ao Brasil, se quiser, vem conversar. Vou lhe dar uns toques de como tirar o máximo de cada um, até mesmo daqueles que quase ninguém mais acreditava. Conheces o William Arão? Conhecia! Precisa vê-lo jogar agora. É um monstro! E o Vitinho também vai surpreender muita gente em breve. Pode contar. Tudo questão de orientação certa. E de motivação, claro.

Prezado Adenor, terei enorme prazer em ajuda-lo, mas com uma condição. Que você pare de convocar os meus melhores jogadores nesta reta final do Brasileiro e da Libertadores. Afinal, só os leva para esquentar banco ou jogar 20 minutos. Foi assim com Bruno Henrique, Rodrigo Caio e Gabigol. Não faz o menor sentido. Deixa o meu Flamengo em paz, que eu lhe mostro o caminho das pedras na seleção.

Mas na próxima chamada, por favor, leve apenas um rubro-negro: o Rodinei, combinado?

Abração e saúde. Você vai precisar..."