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Renato Mauricio Prado

O crepúsculo do Rio

Lateral Marlon, do Fluminense, lamenta pênalti cometido contra o América-MG - Alexandre Loureiro/Getty Images
Lateral Marlon, do Fluminense, lamenta pênalti cometido contra o América-MG Imagem: Alexandre Loureiro/Getty Images

03/12/2018 04h00

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Encerrada a última rodada do Campeonato Brasileiro, vários dos jogadores do Vasco, no Castelão, e do Fluminense, no Maracanã, comemoraram a fuga do rebaixamento de joelhos no gramado, com braços e dedos erguidos aos céus e olhos rasos d'água. Um desavisado poderia crer até que celebravam algum título.

Cenas compreensíveis, diante do ocorrido, mas que nem por isso deixaram de ser patéticas. Vasco e Fluminense são gigantes na história do nosso futebol. Juntos, somam oito títulos brasileiros, quatro cada. Não há o que festejar na simples permanência na primeira divisão. Ainda mais quando é garantida, com sofrimento, ao apagar das luzes.

Assim como o Estado do Rio vive uma vergonhosa derrocada financeira e política (quatro dos seus últimos governadores foram presos por corrupção), o futebol carioca atravessa um de seus piores momentos. Se a decadência dos governantes assusta, a dos dirigentes não lhes deve nada. A não ser pela situação atual do Flamengo (honrosa exceção que confirma a regra), os demais grandes clubes se apequenam e se entregam nas mãos dos empresários a cada ano que passa.

Entre os cinco maiores devedores dos nossos clubes, três são cariocas. O Botafogo lidera o vergonhoso ranking, o Fluminense é o terceiro e o Vasco, o quinto. O Flamengo, que já foi o campeão das dívidas, hoje ocupa uma modesta décima colocação, tendo reduzido o seu déficit à metade - méritos totais para a administração de Bandeira de Mello.

Onde começou essa decadência? Fácil saber. Por anos a fio, o futebol carioca foi comandado por Eduardo Viana, o Caixa D'Água, notório aliado do ex-presidente do Vasco Eurico Miranda. Havia, então, interesse real de desenvolver o esporte no Estado do Rio? Conversa fiada. Tudo era feito apenas para privilegiar dois clubes: o Vasco, de Eurico, e o Americano, clube de coração do presidente da Federação.

Morreu o Caixa D'Água e o impensável aconteceu. Seu sucessor, Rubens Lopes, o Rubinho, consegue ser pior que o antecessor e mentor. O Estadual que já foi o mais charmoso do pais, transformou-se num monstrengo que, entre outras coisas, consegue não dar o título ao clube que vencer os seus dois turnos - a Taças Guanabara e Rio. O negócio é ocupar o maior número possível de datas, ainda que, na maioria das vezes, com jogos que não valem absolutamente nada.

Os resultados dessas décadas de desmandos se fazem sentir agora. Faltando duas rodadas para o término do campeonato, havia o risco concreto de Flu e Vasco caírem juntos, num desastre sem precedentes para o velho e violento esporte bretão na Cidade Maravilhosa. No caso do Gigante da Colina seria o quarto rebaixamento em 11 anos!

Há alguma perspectiva de melhora à vista? Somente se os quatro grandes do Rio se unirem para enfrentar a Federação e fazer o dever de casa que tem que ser feito, pensando no bem de todos e não na vantagem que podem levar sobre os rivais. Caso contrário, serão cada vez menos protagonistas e mais meros coadjuvantes no cenário brasileiro - Botafogo, Fluminense e Vasco não passaram disso, nesta temporada que vai chegando ao fim.

O brasileiro, em sua maioria, comemora os efeitos da Operação Lava-Jato na política brasileira. O carioca precisa urgentemente de uma Lava-Bola no seu estado. Vai faltar cadeia para cartolas e empresário picaretas. Se ela não vier, comemorar fuga do rebaixamento virará rotina num estado que, a curto prazo, pode passar a ter apenas um grande de verdade: o Flamengo. E nem aos mais fanáticos rubro-negros interessa isso.

Em tempo: o Palmeiras ganhou com méritos e sobras. Parabéns ao campeão!