Rafael Reis

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Reportagem

Campeão comunista da Champions tenta renascer na Europa após perder nome

A partida entre Lyon e FCSB, hoje, na França, válida pelas oitavas de final da Liga Europa, terá um time vencedor de Liga dos Campeões em campo. Só que encontrar o seu nome na lista de quem já levantou o troféu da competição interclubes mais badalada do futebol mundial não é tão simples assim.

Afinal, a equipe que derrotou o Barcelona na final da Champions de 1985/86 e protagonizou uma das maiores zebras da história chamava-se Steaua Bucareste. Mas não era o Steaua Bucareste que hoje disputa a segunda divisão do Campeonato Romeno.

Acontece que o antigo Steaua Bucareste, aquele que foi campeão europeu na década de 1980, perdeu na Justiça o direito de usar esse nome. Desde 2017, ele é conhecido como FCSB, nada menos que as iniciais de Football Club Steaua Bucareste. E é esse o adversário do Lyon.

Como assim?

Para entender todo esse processo de troca de nome, é preciso retomar às origens do FCSB... ou melhor, do Steaua Bucareste.

O clube foi fundado em 1947, justamente no ano em que o comunismo foi implantando na Romênia, para ser uma espécie de braço esportivo do Exército do país. Foi assim, com os privilégios de um clube estatal e ligado às Forças Armadas, que conseguiu se destacar no cenário continental durante as décadas de 1970 e 1980.

O campeão europeu não era apenas um time de um país comunista, mas sim a equipe moldada pelo governo para dominar o futebol nacional, fazer sucesso internacional e, assim, atuar como elemento de propaganda do regime.

O Steaua era o clube administrado pelo Exército. No período em que venceu o torneio continental, era comandado, pelo menos na prática, por Valentin Ceausescu, o filho mais velho do ditador Nicolae Ceausescu e que não tinha pudor nenhum em usar a influência paterna para alavancar o time.

Uma das medidas implantadas na época foi a obrigatoriedade do serviço militar dos garotos de maior potencial esportivo do país. Assim, todo mundo que tinha talento para jogar futebol na Romênia necessariamente passava pela base do clube. Só os que eram reprovados ou dispensados de lá tinham a oportunidade de defender outras camisas.

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Além disso, todos os jogadores da equipe principal do Steaua eram funcionários do Exército e, portanto, possuíam regalias impensáveis para o resto da população.

Em 1998, já depois do fim do regime comunista, o departamento de futebol se desligou das Forças Armadas e seguiu seu caminho de forma independente e privada. Por quase duas décadas, esse clube continuou usando seu nome tradicional, pelo qual era amplamente conhecido.

Só que aí o Exército decidiu reativar seu departamento de futebol e fundar o seu próprio Steaua Bucareste e foi à Justiça para requisitar o uso da marca. Com a vitória do governo nos tribunais, o time privado precisou mudar de nome e se transformou em FCSB.

E agora?

Sem o direito de usar o nome de peso relacionado às conquistas do passado, o FCSB vem tentando aos poucos se reconstruir e voltar a ser relevante no cenário futebolístico.

O primeiro passo foi dado na temporada passada, com o fim de um jejum de nove anos e a conquista do inédito título romeno sob nova alcunha. A taça também lhe deu o direito de jogar a Liga dos Campeões, ainda que nas fases preliminares.

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O FCSB foi até a penúltima rodada da pré-Champions, mas acabou eliminado pelo Sparta Praga. Com isso, foi deslocado para a Liga Europa, onde continua vivo, ainda que em situação delicada.

Os romenos já tomaram 3 a 1 do Lyon como mandante na partida de ida das oitavas. Agora, precisam de uma surpreendente vitória por pelo menos três gols de diferença na França para continuarem vivos na competição -se a vantagem for de dois tentos, a disputa prossegue para a prorrogação.

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