Após visita do papa, técnico que abusou de jogadoras se livra de suspensão
Punido com 35 meses de suspensão por diferentes episódios de assédio e abuso sexual contra jogadoras que eram suas comandadas, o técnico português Miguel Afonso está livre novamente para trabalhar... inclusive, no futebol feminino.
O treinador teve sua sanção derrubada, após cumprir apenas o primeiro ano da pena, depois de um decreto do governo português que perdoou "pequenas infrações" e penas leves de prisão por conta da visita do papa Francisco ao país, em agosto.
Apesar de o pontífice ter participado da Jornada Mundial da Juventude em Lisboa três meses atrás, foi só no fim de outubro que Afonso tomou conhecimento que a "anistia papal" se aplicava ao seu caso.
A decisão tomada pelo TAD (Tribunal Arbitral de Desporto) de abolir a suspensão do técnico provocou revolta no cenário do futebol feminino português.
O SJPF (Sindicato dos Jogadores Profissionais de Futebol) chamou a derrubada de pena de "estupefação", "decisão juridicamente errada", "disparate" e "inaceitável". A entidade também decidiu recorrer à FPF (Federação Portuguesa de Futebol) da nova posição do tribunal, mas ainda não obteve uma resposta positiva para sua solicitação.
O curioso é que, em julho, ou seja, algumas semanas antes da anistia concedida pelo governo, o TAD havia confirmado em última instância nacional a pena de Afonso, que além da suspensão de quase três anos de qualquer atividade relacionada ao futebol, também precisou pagar uma multa de 5.100 euros (quase R$ 27 mil).
Entenda o caso
O treinador recebeu essas punições em novembro passado por conta da "prática de cinco infrações disciplinares muito graves", relacionadas a assédio sexual, abuso sexual e discriminação por conta de orientação sexual das atletas, a maioria delas com idade inferior a 21 anos.
Afonso foi alvo de denúncias de jogadoras por comportamento inadequado com sua posição nos últimos quatro times que comandou: Bonitos de Amorim, Ovarense, Rio Ave e Famalicão, onde estava empregado.
As acusações contra ele já vinham sendo apuradas pela FPF, mas se transformaram em um escândalo midiático de grandes proporções depois de uma jogadora do Famalicão ter denunciado que havia presenciado uma "orgia entre atletas do elenco com integrantes da comissão técnica e dirigentes do clube".
A investigação concluiu que Afonso questionou a orientação sexual de atletas por quem estava interessado, trocou mensagens por redes sociais pedindo o envio de nudes e acariciou sem consentimento as coxas e a virilha de uma vítima.
Além do técnico, o "escândalo Famalicão" também culminou na suspensão por 18 meses do então diretor esportivo do clube, Samuel Costa, que foi punido por ofensas homofóbicas, assédio moral e importunação sexual.
Trocas de mensagens levadas a público pela FPF mostravam Costa conversando com um outro cartola (de identidade não revelada). Nesse bate-papo, o português diz que gostaria de "fazer muito oral" em uma jogadora subordinada a ele e reclama das atletas homossexuais usando termos como "bicharada", "são mesmo gays", "fufalhada", "lesbiquices", "é tudo lésbicas".
Não há informações disponíveis se a pena do cartola também foi encerrada pela "anistia papal" ou se ele terá de cumprir sua suspensão de forma integral.
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