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Rafael Reis

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Por que "trio de ouro" é a armadilha que pode derrubar Pochettino e o PSG?

Lionel Messi lamenta mais uma atuação ruim do trio de ataque do PSG - Getty Images
Lionel Messi lamenta mais uma atuação ruim do trio de ataque do PSG Imagem: Getty Images

21/09/2021 04h20

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Cento e vinte e sete minutos divididos em duas partidas, com dois gols marcados e dois sofridos, sufoco para segurar um empate contra o adversário mais fraco do grupo na estreia na Liga dos Campeões e a necessidade de abdicar de um astro para conseguir a virada no Campeonato Francês.

Para quem imaginava que bastaria escalar Lionel Messi, Neymar e Kylian Mbappé juntos para o Paris Saint-Germain se transformar em um time mágico, que engole seus adversários e distribui espetáculo em forma de futebol para os torcedores, os primeiros passos do mais badalado trio de ataque do planeta têm sido uma bela decepção.

E a má notícia para quem deseja o sucesso do ambicioso projeto parisiense é que os problemas que têm atormentado o início de temporada do clube não são tão fáceis assim de resolver porque são estruturais, não apenas uma simples questão de falta de entrosamento.

Quem viu os primeiros 51 minutos do empate por 1 a 1 com o Brugge, na semana passada, e os 76 minutos iniciais da vitória por 2 a 1 sobre o Lyon, domingo, únicos momentos em que os três astros atuaram juntos, deve ter notado que o PSG praticou um futebol que não parecia ser aquele que os times do primeiro escalão do futebol mundial jogam em 2021.

Com três homens destacados lá na frente e pouco participando das tarefas de recuperação de bola, a equipe francesa parecia saída do fim do século passado, quando imperava a ideia de que um bloco de jogadores marcava para que o outro tivesse liberdade plena para jogar.

O sistema funcionava muito bem lá atrás porque, de certa forma, todo mundo jogava assim. Mas, desde que Pep Guardiola resgatou a ideia de "futebol total" no Barcelona, essa estratégia não cola mais.

Nos tempos de futebol pressão, todos os jogadores precisam ser ativos tanto na fase defensiva (sem a bola) quanto na ofensiva (com domínio da pelota). O máximo de luxo que você pode se dar é liberar um atleta de se desgastar tanto correndo atrás dos adversários. E essa já é uma regalia gigante.

Só que Mbappé, Neymar e Messi gostam de ser justamente esse cara que é liberado das obrigações defensivas para guardar fôlego para poder decidir os jogos. Quando jogam por suas respectivas seleções, eles praticamente não marcam. Ficam parados lá na frente vendo seus companheiros correrem por ele.

O técnico Mauricio Pochettino sempre soube que esse seria um problema dos grandes para a construção do novo PSG. Mesmo assim, contra o Brugge, acreditou que a grande diferença técnica em relação ao adversário seria suficiente para conquistar a vitória. Acabou tomando sufoco na Bélgica e até hoje não sabe como não foi derrotado.

Contra o Lyon, foi mais precavido. Escalou laterais menos ofensivos e meias mais marcadores para compensar a pouca dedicação defensiva dos homens de frente. Resultado: acabou deixando o trio de ataque isolado demais.

Para não tropeçar de novo, fez o que qualquer treinador sensato faria. No meio do segundo tempo, tirou um dos integrantes da trinca de ouro (Messi) para deixar o time mais redondo. Conseguiu a virada e saiu de campo com os três pontos. Mas os torcedores, a imprensa e as redes sociais se revoltaram e transformaram o treinador no homem mais odiado da França.

Ou seja, o argentino até possui a cura para o vírus que atormenta a equipe, mas não terá o direito de usá-lo... ou acabará sendo demitido.

Afinal, ter reunido aqueles que são provavelmente os três jogadores mais talentosos do planeta é justamente a grande peça de propaganda da diretoria francesa e dos seus donos qatarianos. E, no PSG, o show do marketing e das redes sociais definitivamente fala mais alto que os resultados.

Por isso, Pochettino terá de criar uma nova solução para esse problema. E ela não será apenas convencer dois dos seus maiores astros a abrir mão de suas características e "se matar" em campo. Afinal, marcar não é o DNA deles e aquilo que fazem de melhor.

Se resolver esse quebra-cabeças dos mais complicados, o técnico poderá sim levar os parisienses ao tão sonhado título europeu e ao posto de "melhor time do mundo". Caso contrário, o PSG acabará sendo vítima da própria armadilha que seu excesso de ambição armou.

Apesar do seu badalado trio ofensivo ainda não ter se acertado, o clube está nadando de braçadas no Francês. A equipe da capital tem 100% de aproveitamento depois de seis partidas e já abriu cinco pontos de vantagem para o Olympique de Marselha, segundo colocado, que tem um jogo a menos.

Neymar, Messi, Mbappé e companhia voltam a campo já amanhã (22), contra o lanterna Metz, fora de casa, na primeira rodada de meio de semana da Ligue 1 nesta temporada.

Mas o confronto realmente aguardado está agendado para a próxima terça-feira, quando o PSG irá receber o Manchester City, atual vice-campeão europeu, em busca da reabilitação na Champions. O Grupo A conta do torneio que é obsessão em Paris conta ainda com Brugge e RB Leipzig.