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Rafael Reis

REPORTAGEM

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Alemanha viveu tragédia no futebol por ignorar importância da saúde mental

Robert Enke morreu há 12 anos e levantou bandeira sobre saúde mental no futebol - Reuters
Robert Enke morreu há 12 anos e levantou bandeira sobre saúde mental no futebol Imagem: Reuters

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Maior nome da ginástica artística na atualidade, a norte-americana Simone Biles chegou aos Jogos Olímpicos de Tóquio-2020 com todos os olhos voltados para ela. A expectativa global era que empilhasse medalhas de ouro e se consagrasse como a protagonista da competição.

Mas a trajetória da atleta de 24 anos no Japão tem sido outra. Ela participou apenas do primeiro aparelho na decisão por equipes e abdicou de competir nas finais do individual geral, do salto, do solo e das barras assimétricas -ainda não há confirmação sobre sua presença na trave.

Biles não tem nenhuma lesão física. Mas considera que, neste momento, não tem condições psicológicas de participar de um campeonato acompanhado de perto por bilhões de pessoas de todos os cantos do planeta.

A desistência da superstar norte-americana levantou uma questão de extrema importância e que acaba normalmente sendo varrida para debaixo do tapete no esporte mundial: a saúde mental de atletas que lidam diariamente com altos níveis de cobrança vindos de técnicos, patrocinadores, do público geral e de si próprios.

Por mais que as Olimpíadas sejam o grande evento esportivo do planeta e normalmente o maior sonho de um atleta, Biles apenas desistiu de uma competição. Mas transtornos psicológicos já produziram danos muito mais expressivos no esporte mundial.

Uma das maiores tragédias envolveu o goleiro Robert Enke, que defendeu o Barcelona e a seleção alemã. No dia 10 de novembro de 2009, seu corpo foi encontrado junto a uma linha de trem, na região de Hannover, onde morava.

Aos 32 anos, o arqueiro vivia na época o melhor momento de sua carreira e provavelmente seria convocado para disputar a Copa do Mundo (talvez até como titular) que seria disputada sete meses mais tarde. Apesar do sucesso nos gramados, acabou se suicidando.

O que pouca gente sabia é que Enke convivia desde a adolescência com um quadro de depressão. De acordo com sua biografia, o livro "Uma vida curta demais", escrita por Ronald Reng, esse cenário piorou bastante durante sua passagem desastrosa pelo Barcelona (2002 a 2004) e ficou ainda mais drástico depois da morte da sua filha de dois anos, em 2006.

Quando se suicidou, o então goleiro do Hannover 96 havia acabado de retornar aos gramados após um período de dois meses afastado por conta de uma infecção intestinal. Ele morreu apenas dois dias depois de sua última partida, um empate por 2 a 2 contra o Hamburgo.

Com a morte de Enke, o futebol germânico começou a deixar de tratar a saúde mental como tabu. A Bundesliga e a Federação Alemã passaram a realizar campanhas de conscientização sobre o tema.

Outros jogadores que conviviam com problemas psicológicos, mas não davam tanta importância a eles devido ao ambiente no qual estavam inseridos, foram em busca de tratamento. O goleiro René Adler, companheiro de Enke na Euro-2008, foi um deles.

Anos depois da morte do jogador, sua viúva administra hoje uma fundação que busca promover informações a respeito da depressão e ajudar quem precisa de um acompanhamento psicológico ou psiquiátrico para evitar novas tragédias como a que a do seu ex-marido.

Caso você esteja passando por problemas pessoais e pensando em cometer suicídio, procure ajuda especializada como o CVV (Centro de Valorização da Vida) e os CAPS (Centros de Atenção Psicossocial) da sua cidade.

O CVV funciona 24 horas por dia (inclusive aos feriados) pelo telefone 188, e também atende por e-mail, chat e pessoalmente. São mais de 120 postos de atendimento em todo o Brasil.

Errata: este conteúdo foi atualizado
Robert Enke jogava pela seleção alemã, não espanhola. O erro foi corrigido.