Topo

Rafael Reis

REPORTAGEM

Texto que relata acontecimentos, baseado em fatos e dados observados ou verificados diretamente pelo jornalista ou obtidos pelo acesso a fontes jornalísticas reconhecidas e confiáveis.

Por que o craque belga De Bruyne teve chance de jogar por seleção africana

Kevin de Bruyne poderia jogar pela seleção de Burundi - Peter Powell/AFP
Kevin de Bruyne poderia jogar pela seleção de Burundi Imagem: Peter Powell/AFP

20/05/2021 04h20

Receba os novos posts desta coluna no seu e-mail

Email inválido

É com um certo "as coisas poderiam ser bem diferentes" que os habitantes de Burundi irão acompanhar a decisão da Liga dos Campeões da Europa, entre Manchester City e Chelsea, no fim da próxima semana.

Isso porque uma das maiores estrelas da partida mais importante do futebol interclubes na temporada poderia hoje estar vestindo a camisa da seleção que ocupa a modestíssima 142ª colocação do ranking da Fifa.

Apesar de ter nascido e crescido na Bélgica, o meio-campista Kevin de Bruyne possui também cidadania burundiana e estava apto a defender as cores do país localizado no leste da África. Afinal, sua mãe nasceu lá.

Mas isso não significa que o astro número um do City tenha de fato raízes africanas.

Até 1962, Burundi não era uma nação independente, mas sim uma colônia que pertencia à Bélgica. Por isso, muitos belgas tinham (e, para falar a verdade, até hoje continuam tendo) negócios na região.

A família materna de De Bruyne foi uma dessas que enriqueceram graças ao mercado gerado pela exploração colonial. O avô do jogador era dono de uma companhia que extraía petróleo no continente africano.

Por isso, a mãe do craque nasceu em Burundi, onde ficava a sede da empresa, e ainda morou na Costa do Marfim durante a infância. Ela só se mudou para a Europa quando conheceu seu marido e pai do jogador.

Mesmo depois de se mudar para a Bélgica, Anna de Bruyne não perdeu contato com a África. Ela se formou em engenharia petroquímica e até hoje administra a empresa da família, que continua com negócios no continente.

Mas seu primogênito nem pensou na possibilidade de jogar por Burundi. Aos 17 anos, ele já defendia a seleção belga sub-17. Com 19, estreou no time adulto dos "Diabos Vermelhos". E, desde então, já disputou duas edições da Copa do Mundo.

Se tivesse optado por jogar pelo país-natal da sua mãe, De Bruyne certamente teria tido um trabalho bem mais árduo pela frente.

Burundi jamais passou perto de disputar um Mundial e só uma vez (em 2019) conseguiu disputar a Copa da África. Mesmo assim, despediu-se da competição com três derrotas em três jogos e sem marcar um golzinho.

O país não tem nenhum jogador que sequer se aproxima da fama obtida pelo camisa 17 do City. O nome mais conhecido do seu futebol é o atacante Saido Berahino, que já jogou no Campeonato Inglês por West Bromwich e Stoke City e hoje atua no Charleloi, time de meio de tabela da Bélgica.

A decisão da edição 2020/21 da Champions será disputada no próximo dia 29 (sábado), no estádio do Dragão, no Porto (POR). Originalmente, a partida seria jogada em Istambul, mas, assim como no ano passado, a sede teve de ser alterada por causa da pandemia de covid-19.

Em Portugal, o jogo que decidirá o campeão europeu desta temporada poderá contar com a presença de público (ainda que reduzido). Doze mil ingressos foram colocados à venda, seis mil para torcedores de cada time.

Essa será a terceira final 100% inglesa na história da competição. Em 2008, o Chelsea foi derrotado nos pênaltis pelo Manchester United após empate por 1 a 1 com a bola rolando. Duas temporadas atrás, o Liverpool se sagrou campeão europeu com uma vitória por 2 a 0 sobre o Tottenham.

O torneio teve outras cinco decisões entre clubes do mesmo país: três espanholas (todas vencidas pelo Real Madrid, em 2000, 2014 e 2016), uma italiana (Milan 0 x 0 Juventus, em 2003, com triunfo rossonero nos pênaltis) e uma alemã (Bayern de Munique 2 x 1 Borussia Dortmund, em 2013).