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Rafael Reis

Sincerão: Ibra não é craque, mas sim um Lewandowski que faz gols bonitos

Ibrahimovic, durante sua primeira passagem pelo Milan - Claudio Villa/Getty Images
Ibrahimovic, durante sua primeira passagem pelo Milan Imagem: Claudio Villa/Getty Images

22/04/2020 04h20

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Zlatan Ibrahimovic tem fãs espalhados por todos os cantos do planeta. Para muita gente, o atacante sueco é um dos craques que o futebol do século 21 produziu e nunca apareceu nas premiações de melhor do mundo por um mero um detalhe: ele jamais esteve no lugar certo na hora certo.

Por isso, o fato de eu ter apontado, durante participação no "Sincerão", do UOL Esporte, o veterano camisa 21 do Milan como jogador mais superestimado que já vi merece uma explicação mais profunda.

Sem dúvidas, o centroavante de 38 anos é um dos grandes fazedores de gol de sua geração. Não à toa, já passou dos 520 tentos ao longo da carreira, é o artilheiro número um da história da seleção sueca e o número dois do Paris Saint-Germain.

Mas, assim sendo, qual seria a diferença entre ele e, por exemplo, Robert Lewandowski, um cara que é goleador ano após ano na Alemanha e que quase ninguém ousa classificar como craque?

A diferença está no marketing. E, desculpa, mas marketing não pode ser critério para diferenciar bons ou ótimos jogadores de craque.

Ibrahimovic tem uma imagem bem maior que seu futebol porque conta com duas características que encantam os olhos de quem acompanha a modalidade de forma não muito crítica: a autopromoção e a capacidade de produzir lances plásticos que viralizam no YouTube e nas redes sociais.

Realmente, é difícil encontrar alguém mais capaz de produzir gols de placa que o sueco. Dono de uma elasticidade ímpar, construída ao longo dos anos dedicados à prática de taekowndo, o centroavante já produziu obras primas de tudo quanto é jeito: de coice, de peito, em chutes de longa distância, enfileirando adversários, etc...

Um desses lances encantados, a bicicleta a 40 metros de distância da meta adversária, dada em um amistoso contra a Inglaterra, ganhou o Prêmio Puskás de 2013 e foi eleito por mim como gol mais bonito do futebol mundial nos anos 2010.

A questão é que cada um desses golaços rende milhões e milhões de visualizações nas telas da internet e ajudam a convencer um bom número de fãs de futebol que Ibra é melhor que realmente é.

O comportamento de popstar arrogante do sueco também dá uma bela força na construção dessa imagem. O astro realmente acha que é um ser iluminado em todos os sentidos (beleza, inteligência, talento para jogar futebol) e deixa isso claro em todas as entrevistas que dá.

Essa autoconfiança é contagiante. E ajuda a supervalorizar seus feitos e injustiças das quais considera ser alvo, como o fato de jamais ter sido finalista do prêmio de melhor jogador do planeta.

Outra dessas supostas injustiças foi não ter sido bem aceito por Messi, Xavi, Iniesta e cia quando foi contratado pelo Barcelona em 2009, no auge do sucesso da "era Guardiola". Segundo a versão de Ibra, isso aconteceu porque ele estaria ofuscando as estrelas que mandavam no vestiário catalão.

A passagem desastrosa pelo Camp Nou, que durou apenas uma temporada e lhe rendeu desafetos que ele cultiva até hoje, é a prova definitiva de que o sueco já esteve no lugar certo na hora certa. E, mesmo assim, não conseguiu provar ser o craque que muitos julgam que ele seja.

Ibrahimovic irá se despedir do futebol cheio de títulos nacionais (foi campeão na Holanda, na Itália, na Espanha e na França) e repleto de artilharias, mas sem nunca ter vencido uma Champions e nem brigado pela Bola de Ouro. Pouco para alguém que se acha o grande nome de sua geração, não?