Topo

Perrone

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Perrone: Ao atacar Abel, Jorginho flerta com xenofobia e se prejudica

Jorginho, técnico do Atlético-GO -  Bruno Corsino / ACG
Jorginho, técnico do Atlético-GO Imagem: Bruno Corsino / ACG

17/06/2022 12h16

Receba os novos posts desta coluna no seu e-mail

Email inválido

Após responder a uma pergunta sobre seu time, depois da derrota por 4 a 2 para o Palmeiras, na última quinta (16), o técnico Jorginho resolveu mudar o rumo da conversa na entrevista coletiva. Passou a dirigir duas críticas ao comportamento de Abel Ferreira.

O treinador do Atlético-GO se perdeu num discurso com cheiro de xenofobia, que revelou mais sobre ele do que a respeito de Abel.

"Não é à toa que não só ele [Abel], mas toda a comissão técnica [do Palmeiras] vem sendo expulsa constantemente, porque falta esse tipo de respeito. Você bater palma para o árbitro é sacanear o cara. É uma coisa que me revolta como treinador, como brasileiro, ele vir no nosso país e estar desrespeitando nosso país, desrespeitando nossos árbitros, dizendo que [o árbitro] é cego, xingando de tudo quanto é nome e nada acontece", afirmou Jorginho.

Do nada, o ex-auxiliar de Dunga na seleção brasileira colocou patriotismo na história.

Da maneira como Jorginho disse parece que Abel não tem o direito de reclamar do juiz por ser estrangeiro. O ex-lateral agiu como se nunca tivesse visto treinador no Brasil bater palmas irônicas para a arbitragem sem ser expulso. Se houve um desrespeito tão grande, Jorginho deveria ter reclamado mais de quem não expulsou Abel do que do português.

Mas o treinador do Atlético-GO preferiu seguir por por um caminho perigoso, com pegadas xenófobas.

Ao se colocar como defensor da pátria diante de um estrangeiro, Jorginho, na verdade posou de guardião da velha escola de técnicos brasileiros. Aqueles que, antes de Jorge Jesus e Abel, torciam o nariz para a ideia de treinadores de outros países comandarem times locais.

Além disso, ele deu brecha para a interpretação de que usou o adversário para desviar o foco do atropelamento sofrido por sua equipe no Allianz Parque no final do primeiro tempo. Até os 40 minutos, o Atlético-GO vencia por 1 a 0, mas foi para o intervalo perdendo de 4 a 1.

Abel e seus auxiliares são chatos com a arbitragem mesmo. Passam do ponto frequentemente.

Mas isso não é um desrespeito ao Brasil, diferentemente do que indicou Jorginho. Não tem nada a ver com pátria e nacionalidade.

O problema é o mesmo quando o comportamento inadequado parte de um técnico que nasceu no Brasil.

As palavras de Jorginho nos fazem pensar se ele está incomodado com a presença de treinadores estrangeiros no país. E mais ainda com o sucesso de alguns deles. No lugar de atingir a imagem de Abel, Jorginho atingiu a sua própria.