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Caboclo diz que Xavi viu convite como sonho, mas paixão pelo Barça pesou

Xavi Hernández, em apresentação como técnico do Barcelona - REUTERS/Albert Gea
Xavi Hernández, em apresentação como técnico do Barcelona Imagem: REUTERS/Albert Gea

10/11/2021 04h00

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"A ideia de tentar trazer o Xavi foi minha. Ninguém sugeriu. A conversa foi minha, diretamente com ele". Com essas palavras, Rogério Caboclo assume a autoria da tentativa frustrada de transformar o ex-jogador do Barcelona em auxiliar técnico de Tite na seleção brasileira.

Após sofrer acusação de assédio sexual e moral por parte de uma funcionária, ele foi suspenso da presidência até março de 2023, um mês antes do fim de seu mandato.

Ao ser apresentado como novo treinador do Barça, na última segunda (8), o ex-atleta confirmou ter recebido o convite. Xavi disse que o plano era que ele assumisse o posto de Tite após a Copa do Mundo de 2022.

Caboclo diz que a substituição do brasileiro pelo espanhol não era uma certeza.

"Não estou desmentindo o Xavi. É uma questão de modo de falar. Atentei para a possibilidade, mediante uma campanha de muito êxito, se ele se estabelecesse no Brasil, se tivesse uma boa adaptação. Uma série de fatores poderia levá-lo a ser treinador da seleção brasileira, mas ele não viria sob a condição de ser o técnico depois da Copa de 2022. Dependia dele. Eu disse : 'vou investir em você", afirmou o dirigente.

Indagado se o atual treinador da seleção já avisou que vai deixar o cargo após a Copa do Qatar, Caboclo respondeu: "Tite já revelou publicamente que não ficará depois da próxima Copa". O blog, no entanto, não localizou a entrevista citada pelo presidente suspenso.

A ideia

Ao explicar como nasceu a "operação Xavi", Caboclo disse que procurava alguém com conhecimento do futebol europeu e que pudesse trocar opiniões com Tite.

Sem revelar nomes, o cartola afirmou que analisou outros profissionais até se decidir pelo ex-jogador do Barça.

"Xavi supriria uma lacuna de informações sobre o futebol internacional. Ele conhece clubes e seleções, tem informações de jogadores mais jovens e de experientes. Não só informações, mas as metodologias que estão sendo usadas lá fora. Ele tem as portas abertas em todos os clubes. A crítica não é que temos pouco enfrentamento com europeus? Nada melhor do que trazer para a nossa seleção alguém como o Xavi para suprir isso", declarou o dirigente.

Para Caboclo, Sylvinho, hoje técnico do Corinthians, cumpriu esse papel quando morava na Europa e era auxiliar de Tite.

O presidente suspenso diz que ficou mais difícil marcar amistosos com europeus por conta da criação da Liga das Nações, disputada pelas seleções europeias.

"Xavi seria multifuncional, ele também discutiria ideias com o Tite. Como o Thierry Henry na função de assistente do Roberto Martínez. Acho que esse foi um dos motivos de sucesso da Bélgica [na Copa da Rússia]", afirmou, lembrando da seleção que eliminou o Brasil no último Mundial.

O dirigente citou as características que fizeram com que Xavi fosse o escolhido para a investida. "Ele fez parte de escolas lendárias do futebol, tem números expressivos como atleta, é um treinador leal aos seus conceitos e um catalão defensor dos ideais da Catalunha", pontuou.

A negociação

Caboclo diz que abriu o jogo com Tite, e que ele e Juninho, coordenador da seleção brasileira, aprovaram a ideia. No entanto, o técnico não foi consultado sobre a possibilidade de o ex-jogador do Barcelona ser seu sucessor.

O cartola contou ainda que sabia que encontraria Xavi no Mundial de Clubes de 2020, realizado em fevereiro deste ano no Qatar. Na ocasião, o espanhol treinava o Al-Sadd, clube local.

"De fato, nos encontramos. Conversamos com ele e com o agente dele. Falei da ideia, da possibilidade. Perguntei do contrato dele e conversamos sobre conceitos. Entregamos ao agente dele e ao nosso diretor de RH, que era um italiano [Marco Dalpozzo], e ao nosso diretor comercial [Lorenzo Perales], que eu trouxe do Real Madrid", relembrou.

Segundo Caboclo, a negociação durou alguns meses até que veio a resposta do ex-jogador recusando o convite.

"A conversa caminhou até certo ponto, até que ele disse que teria eleição no Barcelona e que alguns dos candidatos tinham como meta tê-lo como treinador. Ele é um ícone da nação catalã. Ele queria vir, entre ser o segundo do Tite, com expectativa de ser treinador no Brasil... Ele disse disse que a proposta para trabalhar na Seleção Brasileira era um sonho para ele, mas, que diante do convite para ser treinador do time que é a paixão da vida dele, não poderia assumir outro compromisso", declarou Caboclo.