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OPINIÃO

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Perrone: Postura do governo na pandemia contribuiu para atitude argentina

Tite e Lionel Scaloni durante confusão em Brasil x Argentina - Lucas Figueiredo/CBF
Tite e Lionel Scaloni durante confusão em Brasil x Argentina Imagem: Lucas Figueiredo/CBF

06/09/2021 10h55

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A atitude da Argentina de tentar jogar com quatro jogadores que deveriam ficar em quarentena por terem estado recentemente na Inglaterra é reflexo da maneira como o governo federal trata a pandemia. E, mais especificamente, de como ele lida com a relação entre a crise sanitária e o futebol.

Os argentinos foram quase que convidados a tentar burlar as regras locais.

Eles desembarcaram num país em que o presidente descumpre normas básicas para combater a covid-19, como usar máscara e evitar aglomerações.

A postura presidencial abala a autoridade dos que têm o dever de fiscalizar o cumprimento das medidas de prevenção contra o novo coronavírus.

"Por que eu vou respeitar se nem o presidente deles respeita?", pode pensar o visitante.

Os argentinos são acusados de não informarem em formulários oficiais que quatro atletas estiveram no Reino Unido, o que exige que o visitante passe por um período de quarenta no Brasil.

A Anvisa (Agência de Vigilância Sanitária) diz que, descoberta a passagem dos jogadores pela Inglaterra, onde jogam, a Seleção Argentina descumpriu a orientação para que eles ficassem isolados no hotel.

O goleiro Emiliano Martinez, o zagueiro Cristian Romero e os meias Giovani Lo Celso e Emiliano Buendia deixaram o hotel para treinar e foram para o jogo, que acabou suspenso, neste domingo (5), após a Anvisa tentar impedir o quarteto de atuar.

Claudio Tapia, presidente da AFA, a Federação Argentina, diz que não se pode falar em mentira por parte de seus jogadores porque as autoridades de cada país aprovam os protocolos sanitários para as partidas das eliminatórias e sua seleção cumpriu todos.

"Sempre nos guiamos pela legislação sanitária vigente da Conmebol", disse o dirigente para a emissora TyC Sports, argumentando que a Argentina não pode ser punida pela suspensão da partida.

O cartola deixa claro que a prioridade era cumprir o que diz a Conmebol, não o que determinam as autoridades sanitárias brasileiras.

Agora, lembra da última Copa América? Mesmo com a situação crítica do país na pandemia, o Brasil aceitou realizar a competição às pressas.

Na ocasião, o Governo Federal citou a promessa da Confederação Sul-Americana de que todos os participantes estariam imunizados por meio de vacinação.

Logo ficou claro que não daria tempo para a promessa ser cumprida. Então, o ministro da saúde, Marcelo Queiroga, disse que a vacinação de todos os integrantes das delegações não seria obrigatória.

Ou seja, tudo se ajeitou entre Conmebol e Governo Federal. Por que os argentinos não acreditariam que a confederação sul-americana ajeitaria novamente as coisas com os governantes?

Provavelmente, eles acreditaram que a relação da Conmebol com o governo seria mais forte do que qualquer regra.

A atitude argentina, caso não fosse reprimida, seria a desmoralização total das autoridades sanitárias brasileiras. A cereja no bolo do negacionismo abraçado por Jair Bolsonaro. No fim, a Anvisa virou o jogo, e instalou-se o caos esportivo com a suspensão da partida.