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REPORTAGEM

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Os bastidores da treta que atrasa a criação da Liga de clubes

Mário Celso Petraglia em entrevista coletiva no Atlético-PR - Geraldo Bubniak/AGB/Folhapress
Mário Celso Petraglia em entrevista coletiva no Atlético-PR Imagem: Geraldo Bubniak/AGB/Folhapress

17/08/2021 04h00

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De um lado, um dos mais experientes dirigentes do futebol brasileiro. Do outro, a jovem guarda da cartolagem nacional. Ganhando corpo aos poucos, esse embate eclodiu na última reunião por videoconferência sobre a fundação de uma Liga de clubes brasileiros, em 22 de julho.

O conflito se materializou com a discussão entre Mario Celso Petraglia, 77, presidente do Athletico, e Guilherme Bellintani, 43, do Bahia.

A seguir, você lerá uma reconstituição da treta, entenderá a origem do conflito e conhecerá suas consequências. Procurados, Petraglia e Bellintani não quiseram se manifestar.

A origem

Conforme apurou o blog, antes da reunião em que Petraglia disse que teria agredido Bellintani se o encontro fosse presencial, o presidente do Bahia avaliou que o veterano dirigente estava descontente por ver o colega mais novo no papel de principal articulador do movimento.

Assim, o cartola baiano indicou Rodolfo Landim, presidente do Flamengo, para conduzir a reunião. O rubro-negro, no entanto, várias vezes acionou Bellintani para dar explicações aos participantes.

De acordo com o relato de três dos presentes, Petraglia questionou quem havia dado poderes para Bellintani liderar o grupo que organiza a Liga e quem o havia autorizado a indicar Landim para tocar a reunião.

A resposta do presidente do Bahia foi dura. Ele afirmou que o athleticano poderia falar daquela forma em seu clube, não ali.

Quem defende o dirigente do Bahia diz que sua liderança no processo é natural e tem a ver com outras atuações, como sua participação na CNC (Comissão Nacional de Clubes), vinculada à CBF.

Petraglia também criticou o grupo que estudou diversos modelos de Liga e apontou sugestões para a estrutura da nova entidade.

Na reunião, os cartolas deveriam se posicionar sobre as indicações do grupo de trabalho, mas Pretaglia reagiu de maneira indignada.

Segundo os relatos ouvidos pelo blog, o presidente do Athletico reclamou que o grupo de trabalho avançou em suas funções, pois não deveria fazer sugestões, apenas apresentar os modelos estudados.

Novamente, Bellintani bateu de frente com o cartola do Athletico. Disse que ficou definido na reunião anterior que o grupo faria sugestões. Chegou a dizer que a memória do colega não é tão boa quanto ele imagina.

Também de acordo com a apuração do blog, o presidente do Athletico afirmou que não aceitará que advogados de clubes digam o que ele deve fazer.

No grupo de trabalho há jovens advogados, o que ajuda a compor o clima de conflito de gerações que envolve a tentativa de criação da Liga. Existe uma série de profissionais indicados pelo Athletico no processo.

Barraco

No momento mais tenso da reunião, na esteira da discussão por conta das atribuições do grupo de trabalho, Petraglia disse que teria batido na cara de Bellintani se o encontro fosse presencial. A informação foi revelada pelo colunista Lauro Jardim, do jornal 'O Globo'.

O dirigente baiano, de acordo com a apuração do blog, rebateu a grosseria dizendo que sempre que é contrariado Petraglia age assim, de maneira truculenta.

Ainda houve uma tentativa de avançar na tomada de decisões sobre a Liga. Porém, Romildo Bolzan, presidente do Grêmio, sugeriu que a reunião fosse suspensa, já que dificilmente algo seria decidido. Duilio Monteiro Alves, do Corinthians, apoiou a ideia, e a maioria decidiu colocar um ponto final no encontro.

Consequências

Desde então, nenhuma reunião com os representantes dos 40 clubes das Séries A e B foi marcada.

Mas, os dirigentes seguem conversando. O sentimento geral é de que, apesar do atraso provocado pelo atrito entre os dois presidentes, a Liga sairá do papel.

Pelo menos parte dos cartolas da Série A descreve Petraglia como isolado desde o barraco na última reunião.

Quem pensa assim aponta que, ao questionar a liderança de Bellintani, o presidente do Furacão sinalizou que quer ser o líder da Liga. E que entende merecer esse status por por sua experiência e por já ter participado de outras tentativas, como a Primeira Liga, que não decolou.

Segundo um dos relatos ouvidos pelo blog, Petraglia chegou a dizer que é "pato velho, nada no fundo". E que pato novo, numa referência a quem é mais jovem, "nada raso".

Na reunião inacabada, Petraglia também disse que não aguenta mais "Euricos" no futebol brasileiro.

Representante da ala jovem da cartolagem brasileira disse ao blog que o presidente do Atlhetico não percebe que ele é o "Eurico" do momento. A afirmação iguala Petraglia ao ex-presidente vascaíno no estilo brigão.

Silêncio

O blog tentou falar com Bellintani e Petraglia sobre o conteúdo desta reportagem. O presidente do Bahia disse que não comentaria o assunto.

Por sua vez, Petraglia respondeu às perguntas enviadas por mensagem de texto com a seguinte declaração: "procure apurar bem as informações! Tem verdades e fake news!". Diante da insistência deste blogueiro, ele afirmou que não tinha nada a declarar.