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OPINIÃO

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Dualib saiu do Corinthians, mas 'dualibismo' nunca deixou o clube

Alberto Dualib, ex-presidente do Corinthians, posa para foto em sua residência - Edson Lopes Jr./UOL
Alberto Dualib, ex-presidente do Corinthians, posa para foto em sua residência Imagem: Edson Lopes Jr./UOL

14/07/2021 13h34

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Em setembro de 2007, Alberto Dualib, que faleceu nesta terça (13), deixou a presidência do Corinthians ao apresentar sua renúncia. Porém, o "dualibismo" nunca deixou o clube.

No "andresismo", que domina o Alvinegro desde a saída de seu Alberto, são facilmente notados traços do "dualibismo".

O ex-presidente colecionou títulos e contratações de peso. Juntou num mesmo time nomes como Dida, Vampeta, Rincón, Edilson, Marcelinho Carioca e Ricardinho. Foi campeão do mundo.

Na prática, Dualib ensinou aos seus pupilos que títulos eram fundamentais para dar sustentação política ao presidente. E grandes contratações faziam parte da engrenagem.

Andrés Sanchez, que integrou diretorias de Dualib e depois foi seu carrasco político, tem no currículo as contratações de Ronaldo e Roberto Carlos.

Sanchez e os outros presidentes de seu grupo, o Renovação e Transparência, mantiveram a rotina de conquistas de títulos.

O ex-presidente falecido aos 101 anos, convivia com sua família no clube. Parentes dele entraram para o Conselho Deliberativo. A neta Carla tocava o marketing corintiano. Sua empresa entrou com um processo de cobrança contra o Corinthians após o fim do reinado do avô.

O atual presidente, Duilio Monteiro Alves, aliado de Andrés, prega o profissionalismo. Mas, como Dualib, não vê problema em ter parente atuando no Parque São Jorge. Tanto que nomeou o irmão Adriano Noccioli Monteiro Alves como secretário geral. O cargo não é remunerado.

Dualib também não via mal no fato de o clube ter relações comerciais com conselheiros. Por exemplo, comprava carne do açougue do conselheiro Manoel Evangelista, o Mané da Carne.

Já o grupo Renovação e Transparência considera normal empregar parente de conselheiro e amigos. Michelle Evangelista, filha de Mané da Carne, atua no marketing do clube. Segundo seu perfil no Linkedin, em 2015 ela começou como estagiária atuando na arena em Itaquera. Seu trabalho costuma ser elogiado por conselheiros.

Zé Dirceu, amigo de Andrés, teve três filhas (uma biológica) aceitas para trabalhar no Corinthians.

Nas categorias de base, também é possível ver sinais do "dualibismo". Na era Dualib, elas eram controladas pelo vice-presidente Nesi Curi. Ele chegou a proibir que testes de jogadores fossem feitos sem seu aval.

Com o Renovação e Transparência no poder, o conselheiro Jacinto Antônio Ribeiro, o Jaça, passou a ser a figura mais poderosa no departamento. Já fez parte da diretoria, mas hoje, mesmo sem cargo, segue influente.

Em 2019, com Andrés na presidência, Dualib voltou a ter seu nome figurando como integrante do Cori (Conselho de Orientação do Corinthians).

As desavenças do passado foram superadas por pelo menos parte do grupo de Andrés, que fez um gesto de respeito ao ex-presidente.

Na prática, sua recondução ao órgão faz pouca diferença na história de Dualib no clube. Seu legado é notado no cotidiano corintiano. O "dualibismo" nunca foi extinto, mas reciclado por muitos de seus sucessores.

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