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REPORTAGEM

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Clubes enxergam CBF com grana, mas sem articulação para brecar Liga

23/06/2021 04h00

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Uma entidade com dinheiro, mas sem capacidade de articulação para enfrentar um movimento de clubes. É assim que ao menos parte dos dirigentes dos clubes da Série A do Brasileirão enxergam a CBF atualmente.

Esse diagnóstico apontou o momento atual como ideal para a criação de uma Liga e para a cobrança por mudanças estatutárias.

O entendimento desses cartolas é que, historicamente, a CBF consegue com dinheiro e articulação política minar movimentos de clubes contrários a seus interesses.

Nessa linha de raciocínio, o poderio financeiro é usado para a antecipação de receitas aos clubes com dificuldades financeiras. A análise é que, na atual situação, além de abrir o cofre, um comandante forte usaria suas conexões com presidentes de federações e de clubes para desarticular o movimento em favor da Liga e de empoderamento dos times.

Só que o presidente da CBF, Rogério Caboclo, foi afastando por 30 dias enquanto é investigado por suposta prática de assédio moral e sexual contra uma funcionária da confederação.

Nessa situação, Caboclo não tem como contra-atacar a Liga. O dirigente, que refuta as acusações, perdeu força política e não pode agir oficialmente enquanto está afastado.

Experiente, Marco Polo Del Nero, ex-presidente da CBF, é tido entre os cartolas como um hábil estrategista. O ex-dirigente ainda tem aliados em cargos importantes na CBF, apesar de ter sido banido pela Fifa por suposta prática de corrupção (ele diz ser inocente).

Só que, hoje, Del Nero sofre rejeição de uma parcela significativa dos dirigentes da CBF e das federações que querem a confederação livre de sua influência. Ou seja, seria difícil para ele comandar uma operação para sufocar o movimento dos clubes.

Del Nero e Caboclo têm trocado farpas publicamente, o que reforça a ideia de uma confederação fragmentada.

Coronel Nunes, presidente interino da CBF, não é visto pelos mandatários de agremiações como um dirigente capaz de coordenar uma ação contra Liga e reivindicações dos clubes.

Walter Feldman, em tese, poderia liderar uma reação da CBF, mas foi demitido na semana passada do cargo de secretário-geral da entidade.

Nesse mapa político sobram os oito vices da CBF. No entanto, eles não estão dispostos a fazer movimentos bruscos enquanto o futuro de Caboclo não é resolvido.

E, se o afastamento do presidente se tornar definitivo, os vices mergulharão num processo eleitoral. Apenas os vices poderiam se candidatar à presidência para completar o mandato atual. Em tese, energias seriam concentradas nesse processo, não numa disputa com as agremiações. Peitar os clubes não seria bom negócio para os candidatos, já que as agremiações têm direito a voto.

Essa combinação faz com que os clubes acreditem que não encontrariam momento melhor para tentarem aumentar seu poder no cenário nacional.

Além da Liga, que seria controlada por elas, as agremiações querem que seus votos tenham o mesmo peso que os das federações nas eleições presidenciais na CBF. Também pedem o relaxamento de exigências para que uma chapa seja lançada. Isso aumentaria as chances de os clubes terem candidato próprio.