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Movimento de clubes tenta desmantelar "time Del Nero" na CBF

Marco Polo del Nero, ex-presidente da CBF, em 2015 - Marcelo Sayão/EFE
Marco Polo del Nero, ex-presidente da CBF, em 2015 Imagem: Marcelo Sayão/EFE

17/06/2021 04h00

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Um dos motivos que levaram os clubes da Série A a brigarem por mais poder na CBF é desarticular uma rede de influência que acreditam ter sido montada por Marco Polo Del Nero, conforme apurou o blog.

De fato, o ex-presidente da confederação, banido pela Fifa por causa de acusações de prática de corrupção, tem pessoas de sua confiança em praticamente todos os setores da entidade. Ele nega as acusações.

Uma das reivindicações dos presidentes das agremiações é peso igual para votos de federações e clubes na eleição presidencial da CBF. Os cartolas também querem um afrouxamento nas exigências para o registro de chapas.

Com essa combinação de mudanças, em tese, os clubes teriam mais chances de lançar e eleger um candidato próprio.

Esse seria o ponto de partida para desmantelar o aparelhamento feito por Del Nero na CBF na visão dos clubes. O ex-presidente não atendeu a ligação do blog nem respondeu a mensagem enviada sobre o assunto.

De vices a altos funcionários, as escolhas para a ocupação de cargos têm sido feitas para manter a influência de Del Nero, no entendimento de dirigentes das agremiações.

Há um consenso entre os clubes de que um cartola banido não pode continuar tendo poder na CBF. E existe o receio de que na próxima eleição Del Nero consiga emplacar outro aliado na presidência. Acontecendo isso, os interesses dos times continuariam em segundo plano, de acordo com essa linha de raciocínio.

Essa é uma das motivações dos clubes para exigir mudanças imediatas no estatuto.

O cenário ideal é que as alterações sejam feitas antes da próxima votação.

Caso Rogério Caboclo, presidente afastado por 30 dias, seja destituído do cargo, o presidente interino, Coronel Nunes, terá 30 dias para realizar nova eleição. Caboclo é acusado por uma funcionária de assédio moral e sexual. Ele afirma ser inocente.

O escolhido nesse pleito completaria o mandato atual, que termina em abril de 2023.

Caso essa votação aconteça, só os vices da CBF podem se candidatar. Os cartolas dos clubes querem evitar que o escolhido seja o nome apoiado por Del Nero.

Como o futuro de Caboclo ainda não está definido, não há candidatos declarados. Porém, os presidentes das agremiações enxergam Castellar Guimarães Neto como provável candidato apoiado por Del Nero.

Outro vice, Fernando Sarney, tem causado boa impressão nos clubes, mas não há articulação eleitoral por ele neste momento.

A ideia dos clubes é lançar candidato próprio em 2022, quando acontece a escolha do presidente que irá assumir a presidência da CBF no ano seguinte.

Publicamente, os dirigentes evitam falar em disputa pela presidência e em usar a Liga para pressionar a CBF. Eles declaram que o movimento não é de ruptura.

Porém, conforme apurou o blog, os cartolas trabalham com a ideia de criar a Liga mesmo se não obtiverem aprovação da CBF.

O artigo 24 do estatuto da CBF diz que é facultado à entidade "admitir a vinculação de Ligas constituídas ou organizadas por entidades de prática desportiva, para fins de integração de suas competições ao calendário anual de eventos oficiais do futebol brasileiro".

Cabe à Assembleia Administrativa, formada pelas federações, admitir a vinculação das ligas. Outra exigência é que o estatuto da Liga seja aprovado pela CBF.

O mesmo artigo diz que "as Ligas eventualmente criadas sem observância deste artigo não serão reconhecidas para todos e quaisquer efeitos jurídicos e desportivos como integrantes do sistema da FIFA, da Conmebol, CBF e das Federações filiadas".

A Lei Pelé aponta que os criadores de ligas devem comunicar a criação à entidade nacional de administração do desporto, no caso a CBF. Isso os clubes já fizeram.

Em outro trecho, a lei diz que "as ligas integrarão os sistemas das entidades nacionais de administração do desporto que incluírem suas competições nos respectivos calendários anuais de eventos oficiais".

No entanto, "é vedada qualquer intervenção das entidades de administração do desporto nas ligas que se mantiverem independentes".

Nesse cenário, se a Liga não tiver a aprovação, os clubes terão dificuldade para participar de competições organizadas por federações, Conmebol e Fifa.