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Futebol paulista troca "tapa na mesa" por diplomacia para tentar voltar
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A primeira reação do futebol paulista à decisão do governador João Doria de suspender as partidas no estado teve o efeito de um tapa na mesa.
"A partir da falta de argumentos científicos e médicos que sustentem a paralisação das referidas rodadas neste momento, os clubes delegaram à FPF também a possibilidade de judicialização do caso para garantir a continuidade da competição no Estado de São Paulo neste período de fase emergencial".
A ameaça de ir à Justiça foi feita em nota assinada pela Federação Paulista e por dirigentes de clubes no início do imbróglio.
Antes, os cartolas tinham soltado comunicado afirmando que o Paulistão seguiria seu curso de datas, apesar da suspensão.
O tom era no ritmo "pode vir quente que eu estou fervendo". Os dirigentes paulistas estavam de queixo erguido, confiantes de que superariam o obstáculo.
Veio, então, a reunião para decidir se a FPF entraria na Justiça contra a ordem do governo. A maioria dos clubes entendeu que não havia sinalização de boas chances de sucesso nos tribunais e que brigar com o MP e o governador não seria bom institucionalmente. Além disso, existia o risco de o futebol paulista ficar com a imagem de negacionista.
Por 9 a 7, os clubes decidiram não ir aos tribunais. Porém, a escolha não era se curvar à decisão do governador. Havia, no entender dos cartolas, quase um país inteiro de portas abertas para receber os jogos do Paulistão.
Só que não. Deu tempo de fazer Mirassol x Corinthians e São Bento x Palmeiras em Volta Redonda. Mas as portas foram se fechando na mesma velocidade com que a pandemia de covid-19 aumentava seu número de vítimas em diferentes praças.
Aos poucos, foi possível notar uma mudança de estratégia dos dirigentes. Médicos de clubes e federação elaboraram um novo protocolo para tentar fazer o Ministério Público recuar de sua recomendação a favor da paralisação do futebol.
Doria havia acatado sugestão do MP para incluir esportes coletivos e cultos religiosos nas proibições da fase emergencial de combate à pandemia no estado. Ela vai pelo menos até 11 de abril.
Uma comparação entre os documentos elaborados por federações e clubes mostra a mudança de postura dos cartolas.
Em 11 de março, comunicado oficial da federação e das agremiações dizia:
"A FPF e os clubes reiteram que o rigoroso protocolo de saúde da competição, aprovado e elogiado pelo Ministério Público e pelo Centro de Contingência do Coronavírus, oferece aos profissionais do futebol e a todos os funcionários dos clubes um nível de controle não encontrado em qualquer outra atividade econômica, com testagens seriadas e acompanhamento médico diário".
Apesar de ainda defenderem seu protocolo inicial, os dirigentes assumiram que ele precisava de ajustes como mostra ata de reunião entre médicos de clubes e federação no último 23.
Entrou em cena o reconhecimento de que o momento atual da pandemia é mais perigoso e de que não há sistema 100% seguro. O discurso agora segue linha semelhante ao do MP.
"Nosso protocolo se mostrou seguro e foi implantado com sucesso durante o campeonato Paulista 2020 e as primeiras rodadas da edição de 2021. O documento, entretanto, foi elaborado em um momento com outra realidade epidemiológica. Nenhum protocolo, na prática, pode ser considerado uma barreira intransponível e deve ter como escopo mitigar os riscos de contaminação. O momento atual não é seguro, pelo alto nível de transmissão do vírus, que vem indiscriminadamente acometendo também os jovens", diz o documento.
A mudança no protocolo, que inclui o sistema a de bolha com jogadores isolados em CTs e hotéis, é o principal trunfo dos dirigentes para tentar reverter a situação na diplomacia.
Porém, não parece ser o único. Em meio às tentativas de sensibilizar o MP, ao menos parte dos clubes tem divulgado suas medidas de prevenção, conscientização e até de ajuda as autoridades no enfrentamento da crise sanitária.
Júlio Casares, presidente do São Paulo, por exemplo, tem usado suas redes sociais para mostrar imagens e reportagens sobre a vacinação no Morumbi.
Por sua vez, o Santos, no último dia 30, divulgou em seu site palestra dada aos jogadores pelo infectologista Evaldo Stanislau sobre coronavírus. Ele foi contratado pelo clube para acompanhar o time profissional.
Em outra demonstração de que a palavra de ordem é a diplomacia, a federação escreveu em nota após sua última reunião com o MP, em 29 de março, que "a FPF e o Ministério Público manterão contato constante nos próximos dias para avaliar a situação da pandemia no Estado de São Paulo".
No entanto, os cartolas estão cientes de que nem as melhores habilidades diplomáticas vão resolver se os números de mortos e infectados no estado não caírem drasticamente. Sem isso, o MP deve manter sua recomendação. A palavra final é do governo estadual, que tende a continuar seguindo o Ministério Público.
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