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Com ajuda de Diniz e Lisca, futebol brasileiro espera pelo pior em pandemia

Lisca abraça torcedores na rua após classificação do América-MG na Copa do Brasil - Reprodução/Twitter
Lisca abraça torcedores na rua após classificação do América-MG na Copa do Brasil Imagem: Reprodução/Twitter

22/11/2020 10h46

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Fernando Diniz, Lisca, Cuca e Marcelo Veiga. Esses quatro personagens ajudam a explicar a forma como o futebol brasileiro trata a pandemia de covid-19.

Diniz e Lisca simbolizam a falta de respeito às medidas de prevenção, aos colegas treinadores, aos jogadores e à sociedade em geral.

Cuca e Veiga mostram como os profissionais que atuam no futebol estão perigosamente expostos por causa do desleixo com que o tema é tratado no meio.

Ambos testaram positivo para Covid-19. O técnico do Santos ficou pouco mais de uma semana internado. Já o treinador do São Bernardo foi para a UTI da Santa Casa de Bragança Paulista, entubado, por causa da doença.

Na manhã deste domingo (22), o blog telefonou para o hospital, mas ouviu que informações sobre o paciente só são repassadas para a família e que a assessoria de imprensa do local só volta a trabalhar na segunda-feira.

Na última quarta (18), sem se importar com a pandemia, Lisca se juntou a torcedores que comemoravam na rua classificação do América-MG para as semifinais da Copa do Brasil.

Diniz, sem máscara, abraçou dois torcedores são-paulinos após reverenciar fãs do time que, na verdade mereciam reprimenda. Eles se aglomeraram diante do Morumbi durante a vitória sobre o Flamengo que colocou o São Paulo nas semifinais da Copa do Brasil.

No clube do Morumbi, o protocolo de prevenção tricolor é considerado um dos mais eficientes da Série A devido ao baixo número de contaminações. O episódio envolvendo Diniz foi considerado inevitável a partir do momento em que ele foi abordado por dois torcedores. Seria constrangedor para o treinador virar as costas para a torcida no melhor momento da relação entre ambos.

Outro raciocínio no São Paulo é de que é injusta uma comparação entre Diniz e Lisca pelo fato de o são-paulino ter abraçado dois torcedores enquanto o técnico do América-MG se juntou a um grupo de fãs.

Na opinião deste blogueiro nada justifica eventual passada de pano para a irresponsabilidade e desprezo pela saúde alheia demonstradas por Lisca e Diniz.

No caso do são-paulino, o clube mantém bom relacionamento com líderes da Independente, principal organizada do clube, e poderia ter fechado um acordo para que o treinador não ficasse exposto a essa situação.

A inconsequência de Diniz não se restringe aos abraços. Na opinião deste blogueiro, sua reverência aos torcedores incentiva mais fãs a participarem de eventuais novas aglomerações. Apesar se sua atitude no episódio, internamente, o treinador é avaliado como um dos mais responsáveis com o protocolo de prevenção.

Se a CBF trata-se do tema com o devido rigor, teria criado regras em conjunto com o STJD que permitissem a punição rigorosa para protagonistas de casos como esses.

Jorge Pagura, presidente da comissão médica da CBF, enviou, no último dia 9, mensagem para os médicos dos clubes alertando para o crescimento de casos no país e pediu rigor no cumprimento do protocolo criado pela entidade, como mostrou o blog.

Pela quantidade de casos confirmados recentemente, fica a impressão de que a medida não foi eficaz.

Claro que Diniz e Lisca não são os únicos inconsequentes. Os exemplos estão espalhados pelo país.

O Santos de Cuca não impediu o contato de torcedores com elenco e comissão técnica, por exemplo. O palmeirense Ramires foi flagrado numa casa noturna, sem máscara. Nesse caso, o Palmeiras agiu de maneira correta, multando jogador.

Porém, as punições são raras. Na maioria de vezes impera a lavagem de mãos. A CBF defende o seu protocolo e diz que a transmissão do vírus dificilmente ocorre durante as partidas. Os clubes, na maioria dos casos, tratam cada resultado positivo como parte do jogo, apenas.

Tal comportamento protocolar só aumenta os riscos. Reina no futebol brasileiro a filosofia de que jogador é jovem, saudável e que passa pela doença sem sustos.

Esse pensamento preguiçoso ignora que as comissões técnicas e outros setores dos clubes têm funcionários que fazem parte do grupo de risco para a covid-19. Cuca é um deles.

Se os dirigentes não admitirem o problema e não definirem mudanças na maneira como a pandemia está sendo encarada, o futebol brasileiro seguirá caminhando passivamente para uma tragédia anunciada.