Topo

Menon

REPORTAGEM

Texto que relata acontecimentos, baseado em fatos e dados observados ou verificados diretamente pelo jornalista ou obtidos pelo acesso a fontes jornalísticas reconhecidas e confiáveis.

Jefferson Campos, ex-atleta do NBB, se assume gay: 'Meu exemplo é por amor'

Jefferson Campos (esquerda) e Júnior Chicó - Instagram Jefferson Campos
Jefferson Campos (esquerda) e Júnior Chicó Imagem: Instagram Jefferson Campos

23/06/2022 04h00Atualizada em 23/06/2022 11h59

Receba os novos posts desta coluna no seu e-mail

Email inválido

Setembro de 2020.

Foi em um bar em Brasília que Jeff deu a Catarina (nome fictício), mãe de seu filho Thomas (nome fictício), e a alguns amigos a resposta que já havia dado a si mesmo há mais de dez anos.

"Sim, eu sou gay."

Junho de 2022.

Foi no Instagram, no Dia dos Namorados, que Jeff tirou todas as dúvidas de quem ainda as tinha. A foto beijando Júnior disse mais do que qualquer palavra: foi o primeiro registro público de ex-atleta do NBB, o principal campeonato nacional de basquete, falando abertamente sobre sua sexualidade.

Júnior, no caso, é Júnior Chicó, comediante. Tem um canal no YouTube com 360 mil inscritos. No Instagram, são 223 mil seguidores. Jeff é Jefferson Campos, treinador de basquete 3x3 e ex- jogador de basquete, com 13 temporadas no NBB, com médias de 7,5 pontos, 1,8 rebote, 2 assistências e 7,6 de eficiência, com passagem por equipes como Paulistano, Sorocaba, Suzano, Mogi, Pinheiros, Brasília, Minas e Rio Claro.

O caminho entre a dura revelação, que trincou a amizade que o unia a Catarina e o afeto revelado em redes sociais, foi de aprendizado e conhecimento. Duro e leve também.

Jefferson Campos, do basquete - Reprodução/Twitter - Reprodução/Twitter
Atlético, veloz, Jefferson Campos teve longa carreira pelo NBB
Imagem: Reprodução/Twitter

"Fui contando para as pessoas com que convivia. Em Ponta Grossa, dividia o quarto com um companheiro de time, chamei para uma conversa e disse que não ia esconder nada, que eu era gay. Ele entendeu", afirmou.

Nem sempre foi assim. A chuva de hormônios na puberdade foi o início do autoconhecimento de Jefferson. "Na escola, as garotas passavam por nós, e meus colegas ficavam doidos. Eu não sentia nada e comecei a me achar diferente. Depois, vendo filmes na televisão, percebi que gostava de pessoas do mesmo sexo."

Com 17 anos, em 2008, no Paulistano, Jefferson mimetizava o comportamento de outros colegas. "Fiz comentários agressivos para algumas garotas, depois fui parando e até deixei de sair com os colegas.".

Medo de perder o emprego, medo de ver portas de fechando, Jefferson passou por tudo. Nunca falou sobre sua orientação sexual. "O mundo do esporte é muito homofóbico, e eu nunca quis sofrer bullying, sempre quis manter meu emprego. Sempre fui bom em manter minha máscara, em me esconder".

Nunca houve uma conversa com os companheiros de time e com o treinador. Uma revelação, que talvez, pelo país em que vivemos, soasse como confissão.

Jefferson Campos, ex-NBB - João Pires/Divulgação - João Pires/Divulgação
Jefferson Campos, ex-armador do NBB, nos tempos de jogador do Mogi (2013)
Imagem: João Pires/Divulgação

Amor que dá bandeira

Não houve, mas estava pronto para haver. Jefferson cansou de se esconder, e o post beijando o namorado não foi consequência de haver abandonado a carreira.

"Nada disso, eu já estava decidido, mas tive uma lesão no quadril e precisei parar de jogar. Por isso, o post saiu após minha aposentadoria como atleta, não foi por oportunismo."

Mas assumir os riscos de se mostrar por inteiro foi difícil, sim. "Por causa da minha cor, se estiver em uma rua escura, pensam que sou ladrão. Agora, imagina andando de mãos dadas e beijando em público. Mas eu estava muito feliz e confiante e coloquei minha foto beijando o Júnior na praia. Queria demonstrar meu afeto por ele".

As reações foram boas. Muito apoio. "Não preciso dar outro nome ao meu amor, sou uma pessoa confiante e estou vivendo um momento leve na vida".

Estiveram juntos em um trio na parada gay. O trabalho como treinador de basquete —tem 12 alunos— não foi afetado.

Falta ter a "conversa" com Thomas, o filho. Ou não.

"Não vou precisar dizer a ele que 'papai é gay'. A mãe dele é cabeça boa e tem também pessoas LGBT na família. Somos umbandistas e nossa religião não é contra. Ele conhece e se dá bem com o Júnior. Vai perceber naturalmente que o pai é apaixonado por outro homem".

Jefferson espera que sua história ajude outras pessoas a deixarem de esconder seus sentimentos, sua verdade, sua vida.

Não deseja, porém fazer de seu momento um libelo ativista. "Preciso estudar mais, me informar mais, antes de sair nas ruas em manifestações. Meu exemplo é pelo amor, sem levantar bandeira".

Nem precisa. O amor já levantou a bandeira.