Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.
Menon: Selvagens
Receba os novos posts desta coluna no seu e-mail
Do rio que tudo arrasta se diz que é violento. Mas ninguém diz violentas as margens que o comprimem. (Bertold Brecht).
Selvagens.
Foram chamados de selvagens.
E como chamar o capitalismo que nega a eles o que foi direito de seus pais e avós? O direito de ocupar o pior lugar, o mais incômodo, o mais barato lugar no Templo do Amor, onde se cultua a religião mais popular no Brasil.
Eles não podem mais ficar entre os seus, apinhados, encostados, suados. A eles, é negada a catarse. O gol, o abraço, o beijo, o suor, o grito, a comunhão. O gol. Que gol? Um gol que nem sempre é visto, é muita gente, a geral é pra muitos, mas que chega através de Jorge Cury, Waldir Amaral, João Saldanha, José Carlos Araújo, Luis Penido, Orlando Batista...
A eles é negado o mínimo. O direito de ser um geraldino.
A transformação de estádios em arenas passou uma borracha na geral. Futebol passou a ser coisa de bacana.
O mais próximo que podem ficar do Maracanã é em uma barraquinha vendendo camisa falsificada, amendoim, churrasquinho de gato, um goró. Um olho no troco e outro no rapa e uma vontade nunca realizada de estar do lado de dentro.
Detesto gourmetização da pobreza. Sabe aqueles filmes em que um cara sai de casa, na favela, é lógico, fala oi compadre para o vizinho e saem cantando um samba novo? Ou então, vê uma mulher bonita, fala uma gracinha e...estão transando gostoso?
Pois, é.
Não é assim, não. A vida do pobre é dura, um eterno se vira nos trinta, dividido entre tráfico, milícia e um mês que sempre dura mais que o salário. E bala perdida, que nunca acha a cabeça de rico.
Os geraldinos transformados em ambulantes que foram se despedir dos jogadores do Flamengo prefeririam ir a Montevidéu, adorariam ir ao Maracanã, mas não podem. Não mais.
O que fizeram foi um ato de pertencimento. De estar juntos com o time. De dizer traz o caneco pra mim. De poder contar ao filho que virá o pai esteve lá e ajudou o Flamengo a ser campeão. Se for, é claro. Se não for, não interessa. Ele estava lá declarando, da única maneira que restou, da única maneira permitida, no novo normal, o seu amor.
Selvagem.
ID: {{comments.info.id}}
URL: {{comments.info.url}}
Ocorreu um erro ao carregar os comentários.
Por favor, tente novamente mais tarde.
{{comments.total}} Comentário
{{comments.total}} Comentários
Seja o primeiro a comentar
Essa discussão está encerrada
Não é possivel enviar novos comentários.
Essa área é exclusiva para você, assinante, ler e comentar.
Só assinantes do UOL podem comentar
Ainda não é assinante? Assine já.
Se você já é assinante do UOL, faça seu login.
O autor da mensagem, e não o UOL, é o responsável pelo comentário. Reserve um tempo para ler as Regras de Uso para comentários.