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REPORTAGEM

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Menon: São Paulo: o clube já foi rebaixado e o time está a caminho

17/11/2021 11h59Atualizada em 17/11/2021 19h25

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O peruano Mario Vargas Llosa, prêmio Nobel de Literatura, começa "Conversa no Catedral", espetacular livro, com uma indagação terrível.

"Da porta do La Crónica, Santiago olha a Avenida Tacna na sem amor: automóveis, edifícios irregulares e desbotados, esqueletos de anúncios luminosos flutuando na neblina, o meio-dia cinzento. Em que momento o Peru tinha se fodido? (.....) Zavalita era como o Peru: tinha se fodido num certo momento. Pensa: em qual"?

Serve para o São Paulo. E a explicação está mais em Marx do que em Vargas Llosa. A dialética e sua teoria da mudança permanente.

Não há um momento exato.

Há um processo contínuo de decadência e mau gerenciamento que levaram o clube que era um exemplo de inovação para uma situação desesperadora.

O início foi com a autodenominação de Soberano. Não foi fruto de uma eleição, como o "Mais Querido", não foi uma "Ferrari", como disse Cruyff. Não. Foi algum gênio arrogante que achou maravilhoso atrelar arrogância ao clube.

Uma arrogância explicitada por Carlos Miguel Aidar em pelo menos três momentos de sua malfadada gestão.

1) Ao dizer que o Palmeiras estava se apequenando. Muito diferente de Juvenal Juvêncio, que deu um basta às provocações de Andrés Sanchez com o "Mobral inconcluso", também preconceituoso, mas reativo.

2) Quando, diante de uma suposta investida do Napoli por Ganso, disse que nem todo o dinheiro da Camorra (máfia do sul da Itália) Ganso sairia. Preconceito e xenofobia.

3) É o pior de todos, pois vem acompanhado de burrice. Carlos Miguel disse que Itaquera era longe. Tentativa de ofender os corintianos, sem atentar que há muitos torcedores do São Paulo em Itaquera. Pra ele, torcedor do São Paulo bom é o que mora perto. De onde?

Ah, mas se o Ministério Público tivesse indiciado Carlos Miguel apenas por arrogância. A acusação é muito mais grave: com Cinira Maturana, sua mulher, teria ficado com 800 mil reais do São Paulo. O Ministério também investiga Douglas Scwartzmann e Leonardo Serafim, conselheiros do clube. Voltaremos a eles.

Antes, uma pergunta: haveria Carlos Miguel se Juvenal Juvêncio não houvesse mudado o estatuto para que o mandato presidencial fosse de dois para três anos? E tivesse concorrido a um novo mandato?

Poderia concorrer? Um laudo de advogado conceituado disse que sim. O advogado conceituado é Carlos Miguel Aidar.

Saiu Aidar - afastado, mas ainda atuando no clube - e entrou Leco. Homem honesto e que fez contratações caríssimas: Pablo, Pato, Hernanes, Diego Souza Nenê e outras bizarras como Trellez e Everton Felipe.

E Juanfran, recebendo em dólar.

E Daniel Alves, baseado em uma operação financeira que nunca saiu do papel.

E houve a pandemia. E atraso de salário. E Daniel Alves cumpriu seu sonho de voltar ao Barcelona. Vai ganhar pouco. Não precisa de muito. O acordo com o São Paulo lhe garante bancar o sonho barcelonístico. São 500 mil por mês.

E chega Júlio Casares. Com quem? Ele, Douglas Schwartzmann, suspeito de tenebrosas transações junto com Aidar, ainda não indiciado.

Que confiança de Casares em Douglas!

E, em dez meses de mandato, começa a tentativa de mudança do estatuto, prevendo a reeleição. Lembram do Juvenal? Alguém aposta um chickabon que Casares não será candidato?

O São Paulo vive em um looping eterno. Um dia da marmota. Um DeLorean que só anda em marcha-a-ré.

Outra mudança prevê a diminuição da participação de conselheiros. O clube se fecha cada vez mais.

O Senado Romano devia ser mais democrático e fazer menos besteira. Mesmo se Incitatus votasse.

O São Paulo é oligarca, como diz meu amigo Isaac.

O clube já foi rebaixado.

O time vai cair.

Só não digo que merece cair, porque estaria sendo incoerente. O time é de torcedores, como eu, e não de dirigentes que vivem em eterna lua de mel com a arrogância e com o golpismo.

Eles merecem sofrer.

Nós, não!