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OPINIÃO

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Menon: O beijo proibido de Pikachu é a cara do Brasil da punição seletiva

Yago Pikachu comemora gol do Fortaleza contra o Grêmio pelo Brasileirão - Kely Pereira/AGIF
Yago Pikachu comemora gol do Fortaleza contra o Grêmio pelo Brasileirão Imagem: Kely Pereira/AGIF

17/10/2021 13h00Atualizada em 18/04/2022 15h00

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Uma mulher, miserável e paupérrima, foi presa por furtar miojo e mais algumas coisas de um supermercado. Um total de R$ 21. Mais do que custa ao Estado um dia de um preso na cadeia.

E os filhos que ela iria alimentar com o miojo? Comeram o quê? Ficaram com quem? Sentiram falta da mãe? Têm pai?

Estamos falando do país das rachadinhas, do país onde se papa propina por vacina, do país em que osso de boi e carcaça de peixe ganham status de prato principal.

Iguaria única. No sentido de unitária.

E o futebol?

Yago Pikachu levou cartão amarelo por mandar dois beijos irônicos para a torcida da Chapecoense após converter um pênalti aos 48 do segundo tempo.

Um pênalti marcado pela tensão. Árbitro e bandeirinha não viram o zagueiro da Chape esticar o braço. Não veriam também um tiranossauro rex tomando banho de sol no quintal de suas casas.

Como o pênalti não foi marcado, a Chape foi ao ataque e fez o gol. O VAR chamou. Gol anulado. Pênalti marcado. Gol de Pikachu. E o beijo punido.

O juiz está mais atento no beijo do que no pênalti. Mais atento em punir do que em apitar corretamente. Se tivesse apitado corretamente, nem beijo haveria.

Fico imaginando o árbitro e o bandeirinha no supermercado no dia em que aquela senhora foi pega roubando um miojo, pasta de dente e outras coisas.

Intercederiam a seu favor?

Ajudariam a pagar os tais 21 reais?

Nada.

Recorreriam às filmagens da câmera (o VAR dos supermercados) e, imediatamente, sacariam um cartão amarelo para ela, a mãe que tentava alimentar os filhos.

Amarelo, não. Vermelho.