Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.
Nunca mais, Américo e Renatinho!! Nunca mais, Natan e Iraci
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Sentado na cadeira Ferrante, eu nem olhava para o espelho à minha frente. Meu foco era um pequeno armário com merthiolate e mercúrio cromo.
Faz muito tempo. Merthiolate ainda ardia. E o vermelho do mercúrio cromo assustava. E eu, garoto, tinha medo.
Injustificado, logo vi. Américo Vannucci ( o último à direita na foto) e Renatinho eram craques da barbearia. E o salão, modesto, era o centro de conversa dos adultos, como meu pai.
Seu Américo dominava a cena. Era figura conhecida do Carnaval, com a família toda. Levavam um circo para a avenida, com muitas engenhocas. E foi também um dos incentivadores da construção da Santa Casa. Vestido de palhaço, com um balde na mão, arrecadou muito dinheiro.
Em 1962, estava lá. Edson Souza batia o dedo indicador em uma tabela da Copa do Mundo e garantia: 'da Espanha, não passamos. Di Stefano é muito bom". E Pelé? E lá vinha discussão.
Calado, fiquei com raiva do seu Edson. E sorri quando o Brasil passou. Mas ele tinha razão: Do Stefano não jogou e o juiz era nosso. Anulou um gol e não deu um pênalti de Nilton Santos.
Muitos anos depois, conversava de política com Edson de Souza, Ruy Leme e Sérgio Moro - o verdadeiro, não esse aí - no bar do João Varzone. Orgulho.
Em 31 de março de 1964, eu também estava lá.
Lutércio Martucci chegou em um fusca verde em velocidade. Parou e saiu, já gritando o Jango caiu, o Jango caiu.
Não entendi bem. Tinha a ver, imaginei, com uma conversa que ouvi, antes ou depois, entre meu pai e minha mãe
Se a Revolução chamar, eu me alisto.
De jeito nenhum. Tem filho pra criar.
Não foi preciso. Não houve resistência. O Golpe se confirmou. A Ditadura se instalou. E muitos morreram.
Meu melhor aluno, o mais inteligente de todos, repetia minha mãe, de olhos pregados na televisão que anunciava a fuga espetacular de Natanael de Moura Giraldi, um dos meus heróis aguaianos, como a amada Iraci Poletti.
Faz 57 anos.
Nunca mais.
Nunca mais.
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