Palmeiras, a Soda Gaúcha e o técnico estrangeiro

No final dos anos 80, havia campeonato de Fórmula-Ford no Brasil. Era muito disputado, com pilotos como Rubens Barrichello, Tom Stefani, Djalma Fogaça e outros.

A cobertura dos jornais era grande. A organização bancava tudo e a gente viajava bastante. No Diário Popular, onde eu trabalhava, havia rodízio. Em outros jornais também. Mas na Gazeta Esportiva, o escolhido era sempre o Salvador Sendo, sujeito doce e amigo de todos.

Sendin era um anfitrião de todos os jornalistas. Conhecia tudo de todos os autódromos e cidades. Dicas de hotel, passeios, tudo com ele.

Quando soube que eu iria para uma corrida em Porto Alegre, me ligou.

Que bom que você vai. Vou te levar na Churrascaria Brescia e vamos tomar uma Soda Gaúcha dois litros.

É bom?

É ótimo. Soda Gaúcha dois litros é demais.

Soda Gaúcha é o nome que inventei. Não me lembro o nome verdadeiro.

Bem, a semana inteira o bom Salvador só falava das maravilhas da Soda Gaúcha dois litros.

Quando recebemos as passagens, ele exultou.

Vamos chegar na hora do almoço, Menon. Vamos direto para a Churrascaria Brescia, comer uma picanha e tomar uma Soda Gaúcha dois litros.

Durante o vôo, ele repetiu as maravilhas da Soda Gaúcha dois litros.

Pegamos o táxi e fomos para Churrascaria Brescia. O hotel ficou para depois.

Sentamos e veio o garçom. Pedimos um churrasco rodízio. E Salvador, com cara de felicidade, tirou a carta da manga.

Me dá uma Soda Gaúcha dois litros.

Estamos em falta.

Ah, então dá qualquer coisa dois litros.

Acho que o amigo Sendin estava mais interessado nos dois litros do que nas maravilhas da Soda Gaúcha.

O Palmeiras está assim.

Quer um treinador estrangeiro.

Ramires?

Heinze?

Garnero?

Holan?

Sakuraba?

Trapattoni?

Não interessa. Sendo estrangeiro, está bom. E as diferenças entre eles? O que o Palmeiras realmente quer? Posse de bola? Defesa forte? Contra-ataque? Jogo posicional?

Precisa pensar bem.

Nem todo mundo é soda Gaúcha