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Menon

Uma lágrima pelo Lance!

21/03/2020 23h06

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O Diário Lance! encerra sua edição impressa, iniciada em 1997. Sempre uma tristeza imensa ver um jornal morrer, ainda que parcialmente. Passei por isso no Popular da Tarde, Gazeta Esportiva, Jornal da Tarde e Diário Popular. Passei em todos e sofri também com o fim de Notícias Populares, Folha da Tarde e Gazeta Mercantil, onde não trabalhei.

Sinto pela situação de colegas e torço para que não percam o emprego. Sinto porque parece irreversível o fim do impresso. Não sinto por Walter Mattos Jr, o dono.

Minha lembrança dele é uma só. Vou dividir com vocês. O Lance! fez um concurso, antes de sua estreia, e contratou talentosos estagiários. Recém-formados, ganhando muito pouco, 15% do que recebíamos, os mais velhos.

Em pouco tempo, houve atraso de salários. Para todo mundo. Ele convocou uma reunião e não tocou no assunto. Falou apenas que, em pouco tempo, trabalharíamos também para a Rádio Lance!, além de vídeos.

Perguntei, então, sobre o atraso.

Ele respondeu que era preciso paciência porque ele também não havia recebido a parte dele.

Ele tinha um Porsche. A gente ia de ônibus. E, naqueles dias, ele mandara comprar talheres de prata para receber Eduardo José Farah, presidente da FPF para um almoço.

Walter também se intrometia na parte editorial. Encomendou um ranking de clubes brasileiros. Foi feito e não deu Flamengo. Mandou refazer, dando um peso enorme a campeonatos regionais, para que o Flamengo liberasse. Censurou uma matéria crítica ao vôlei.

Na Copa de 98, o Lance! deu "juiz ladrão" como manchete, após derrota para a Noruega, com um pênalti de Júnior Baiano, que a televisão não mostrou.

No dia seguinte, uma nova imagem apareceu, confirmando o pênalti. Ele me chamou e disse que ainda era possível defender a manchete. Pediu um texto e eu disse que não faria. Que não era torcedor da seleção e que havia sido penal.

Walter não queria apenas um jornal. Queria ser influenciador do esporte brasileiro. Não conseguiu. Há pouco tempo, estava envolvido em outro tipo de atividade comercial. Sorvete, se não me engano.

Sinto pelo Lance!, o local de trabalho onde fui menos feliz na minha carreira.