Diário Australiano (1) - Não vamos a la playa

Bondi Beach era minha primeira opção de passeio, quando comprei passagem para a Austrália, em outubro. A segunda, o aquário de Sydney, embalado por um livro de Jo Nesbø.

O aquário, eu vi. Gostei muito. A praia, só de longe. Estava frio, fui deixando pra depois e agora o Primeiro Ministro Scott Morrisson proibiu o acesso, como forma de combate ao coronavírus.

Foi uma reação de Morrisson ao clamor da opinião pública, depois que a praia amanheceu lotada na sexta-feira. Nenhuma preocupação com limite de contato social. O assunto virou trending topic no twitter e veio a proibição. No dia em que o número de casos passou a barreira dos quatro dígitos. Mais de mil.

Morrisson não é conhecido por ousadia. No ano passado, quando houve muitas queimadas na Austrália, ele estava em férias no Havaí. Foi muito questionado e respondeu algo do tipo: "não sou bombeiro". As críticas aumentaram e ele voltou.

Fernanda, minha sobrinha em cuja casa estou hospedado, diz que ele tem cara de bundão. Relutante ou não, ele assinou outro decreto. Reuniões sociais em ambientes internos agora têm regras. Se a pessoa quer dar uma festa e tem uma casa de 100 metros quadrados, pode receber no máximo 24 pessoas. Quatro metros quadrados por pessoa. Dois metros por dois metros.

E quem vai fiscalizar? O vizinho?

Estou com minha companheira e minha irmã na casa de Fernanda e Rick, seu marido. É um bairro muito arborizado, com casas de madeira. As pessoas continuam caminhando com seus cachorros e fazendo exercícios. Há um centro comercial, com supermercado, açougue e café. Hoje, dia de fechamento da praia, havia pelo menos 20 pessoas no café, mais de 50 no supermercado e um intenso vaivém pelo calçadão.

A Austrália não é dirigida por alguém que detesta o Conhecimento. Mas, com seu Primeiro Ministro indeciso, com seus campeonatos de rugby e futebol em andamento, com as crianças indo à escola, dá a impressão de ainda não haver despertado para o perigo invisível.