Espinosa acende uma luz no túnel do futebol raivoso
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Valdir Espinosa, funcionário do Botafogo, morreu há alguns dias. Seu caixão estava coberto com a bandeira do Glorioso. Não só. Também com a bandeira do Grêmio.
Um gesto maravilhoso. Afinal, como lembrou a Fifa, o treinador Espinosa acabou com o pesadelo do Botafogo e levou o Grêmio a viver um sonho.
Maurício tirou o Botafogo da fila e Renato levou o Grêmio ao Olimpo. Espinosa é amado igualmente pelos torcedores dos dois clubes.
E as duas bandeiras no caixão comprovam que um homem pode ser amado por duas torcidas.
Não podemos nos render à cultura do ódio. O meu Espinosa foi melhor que o seu. Meu patrocinador tem olhos verdes e o seu, não.
É possível amar o futebol, além de nosso clube, de nossos limites. Para mim, é difícil entender como garotos em busca de sucesso são alvos de ódio. O cidadão senta no sofá, em frente da televisão e torce para Vinícius Jr jogar mal. Tamanha obsessão, tamanho ódio podem levar à uma boa úlcera.
Garrincha, a Alegria do Povo, unanimidade nacional, hoje seria ofendido. Como Sócrates.
Ouço ranger de dentes a cada criminosa de defensores e volantes. Ranger de ódio, contra o agredido e não contra o agressor.
Não se trata de um campeonato de mosteiros, é lógico, mas o futebol de hoje vive mais de ódio do que de admiração ou amor.
Espinosa, morto, envolvido por duas bandeiras, é o símbolo do que poderíamos ser no futebol. E até como Nação. E não há exemplo melhor. Seu perfil, assinado por Bernardo Gentile e Marinho Saldanha, aqui no UOL, mostra um sujeito do bem, bom de conversa, agregador e louco por churrasco. Junto com jogadores. E cerveja.
Pode-se dizer que o futebol mudou, que o profissionalismo não aceita isso, mas e o Corinthians, em que o jogador, na hora do café, precisa pedir licença ao Cássio, se quiser fazer xixi?
Que Espinosa e suas bandeiras entrelaçadas nos protejam de tanta caretice.
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