Cafu, o melhor do mundo, coloca o dedo na ferida
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Cafu nunca pediu licença. Sempre atropelou marcadores e as vicissitudes da vida.
Seria, hoje o melhor lateral do mundo. Seria porque lutaria para ser. Sua vida esportiva sempre foi assim.
Em uma entrevista, disse que nunca mais se fará um lateral como ele.
Está certo. Com certeza aparecerá alguém mais talentoso, com mais dom, que não precisará ser "feito", ser construído, como ele foi. Mas, sair do quase zero e chegar ao topo, como ele conseguiu, impossível.
Cafu lembrou dos 150 cruzamentos diários que fazia, após os treinos. Nem jogadores e nem técnicos teriam paciência para tanto trabalho, após o treino findo.
Ele mesmo chegou a se irritar com Telê Santana, seus treinos duros e sua didática constrangedora.
Vai, Cafu, acerta um cruzamento. Você está envergonhando a camisa do São Paulo.
Vai, Cafu, você joga no São Paulo. Não me faz passar vergonha.
Um dia, Cafu se revoltou.
Quero ver o senhor acertar.
Telê cruzou. Acertou. Cruzou de novo. Acertou de novo.
Cafu não se lembrou de um exercício diário de Telê. Quando o treino terminava, ele guardava as bolas em alguns cestos. Não usava as mãos. De longe, chutava as bolas para os cestos. Tinha grande aproveitamento.
Telê nunca foi um treinador extremamente tático. Seu grande mérito era corrigir defeitos e aprimorar fundamentos.
Cafu se aproveitou muito disso e construiu uma carreira gigantesca. Jogou quatro Copas. É, a meu ver, o quarto melhor lateral da história do futebol brasileiro, atrás de Djalma Santos, Carlos Alberto Torres e Leandro.
E não vê, no futebol moderno, ninguém com vontade de trabalhar para ter sucesso. Basta o dom.
Cafu foi capitão da seleção brasileira. Nada de mais. Não tomou atitude em 2006, quando Ronaldo e Ronaldinho comandaram a festa. Fiel às raizes, levantou a Taça de 2002 lembrando o Jardim Irene. Hoje, apoia quem nada faz pelos pobres e pretos de tantos jardins irenes do Brasil varonil.
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