O peso de cada voto na eleição do presidente da CBF
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por Joelson Giordani*
Se os Clubes da Série A tiverem peso maior que as Federações, aumentará a concentração de poder menos de 3% dos atores do futebol nacional e a chance de democratização do futebol vai se evaporar. Torna-se provável que isso enfraqueça até a elite do futebol e faça a principal entidade do futebol brasileiro ignorar o desenvolvimento do esporte no restante do país. Explico o porquê.
Hoje a CBF tal como está, com estado tendo peso três e os times de séria A tendo peso dois, ainda permite que o futebol profissional exista em locais onde prevalece a pobreza dentro das quatro linhas. Uma Federação não tem peso sozinha. Elas representam times pequenos que não tem voto nenhum.
Assim sendo, a Federação do Piauí, por exemplo, partilha seu poder com 12 times profissionais em atividade. Enquanto dois times do Rio somados tem mais poder que um estado inteiro e seus 12 clubes. Percebo que o cálculo mais coerente é assim: Federação do Piauí tem peso três, enquanto Federação Carioca tem peso 12 (somas do peso dos times da série A, B e Federação).
Esse é meu raciocínio. Isso já é distorção suficiente a meu ver. Se aumentar ainda mais o pesos dos times da série A, a distância entre estados dispara!
Hoje o futebol profissional do meu estado funciona porque a Federação consegue ajudar na manutenção de estádios, as vezes ajudando a sustentar folhas modestas de times pequenos que revelam jogadores menos favorecidos e sustentam famílias que tem na renda do futebol sua única e pouca fonte. A maior parte dos times do futebol do Brasil é composto por times como os daqui.
Existem 783 clubes profissionais no Brasil. Destes uma parcela pequena, 124 times, está em uma das quatro séries A, B, C ou D. Ou seja, 15,8% dos times representados pela CBF estão em algum "Campeonato Brasileiro" por menor que seja esse Brasileiro. 84,2% do futebol brasileiro trabalha com salários abaixos da série D, ou seja, algo em torno de 3 mil por atleta.
Esses são a maioria esmagadora dos brasileiros em campo. A CBF tem que olhar para essa imensa maioria de algum modo e essa distribuição de peso tal como está tenta resguardar isso.
Somente 2,5% dos jogadores de futebol do Brasil estão na série A. A meu ver, isso significa que o futebol do Brasil é muito diferente dos times da série A. 97,5% do que é o futebol Brasileiro a TV não mostra.
Se a CBF aumentar ainda mais o peso dos clubes desse grupo seleto de 2,5% vai concentrar poder excessivamente nesse percentual mínimo e "dar as costas" para o futebol do Brasil "verdadeiro" posto que compõe a maioria. Nem me refiro a times amadores que também tem parte nas Federações e que também precisam de assistência.
As vezes eu enxergo a CBF como a organizadora do Campeonato Brasileiro da Série A e que precisa trabalhar para esses times, mas não devo enxergar assim. Preciso ver como A instituição que permite que muitos jogadores sem acesso à elite possam exercer a sua profissão e, por consequência, ser base de um pirâmide que precisa existir para fazer funcionar o topo.
Se os times da série A aumentarem seu peso, as Federações não serão sequer recebidas e apenas os interesses legítimos dos clubes grandes serão atendidos. Os times pequenos têm que existir não só para garantir que mais pessoas pratiquem o futebol como profissão, mas para fornecer mais talentos e garimpar jogadores para toda a cadeia.
Quem faz essa distribuição é protagoniza essa política compensatória é a CBF por isso defendo que o peso continue como está: federações com mais protagonismo somando o seu voto e dos seus times e as menores tendo ao menos alguma representação.
* jornalista, piauiense e rubro-negro
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