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Mauro Cezar Pereira

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Na entrevista de Zico, fatos e o imaginário no Flamengo de ontem e de hoje

Zico deu entrevista ao jornal O Globo - GettyImages
Zico deu entrevista ao jornal O Globo Imagem: GettyImages

30/04/2022 14h13

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Zico concedeu entrevista ao jornal O Globo. Ficou claro que a visão do maior ídolo da história do Flamengo está muito presa aos seus tempos de jogador, embora de la para cá muita coisa tenha mudado, outras nem tanto.

"Nosso time queria estar em campo todo dia", disse, referindo-se à equipe campeã de tudo nos anos 1980. Queria, mas não jogava todas, afinal, já naquela época atletas já se lesionavam e eram suspensos.

Tanto que Raul; Leandro, Marinho, Mozer e Júnior; Andrade, Adílio e Zico; Tita, Nunes e Lico, o time que entrou para a história, só atuou por quatro partidas. Era impossível repetir a escalação sempre, como ocorre até hoje.

"Com (Jorge) Jesus entrava sempre o mesmo time, quando precisava tirava um ou outro", falou o maior camisa 10 da história rubro-negra, em referência ao treinador campeão entre 2019 e 2020.

Não era bem assim. Tanto que entrou em campo apenas em oito pelejas a formação histórica comandada pelo português. Ela tinha Diego Alves, Rafinha, Rodrigo Caio, Pablo Marí e Filipe Luís; Willian Arão, Gerson, Everton Ribeiro e Arrascaeta; Bruno Henrique e Gabigol.

Zico também critica na entrevista o fato de Paulo Sousa testar jogadores em posições diferentes das originais. Mas no time de 1981 essa foi uma das maiores virtudes, com os melhores sendo encaixados entre os titulares.

Tita e Lico eram meias, Claudio Coutinho e Paulo Cesar Carpegiani os colocaram pelos lados. Ou seja, seriam reservas de Zico e Adílio e se transformaram em titulares absolutos, importantíssimos, ao lado dos craques das camisas 8 e 10.

Leandro, o maior lateral-direito da história do Flamengo, jogou em outras posições, inclusive na final da Libertadores de 1981, no meio-campo, com Nei Dias entrando na lateral. O mesmo aconteceu na final carioca contra o Vasco.

Júnior era volante na base, firmou-se nos profissionais como lateral-direito em 1974, sendo campeão do Rio de Janeiro. Com a contratação de Toninho ao Fluminense, em 1976, foi para a esquerda, chegando à seleção como um dos maiores da história. Adiante, voltou ao meio-campo.

Guardadas as devidas proporções, hoje Lázaro, sem chances na posição de origem, o meio-campo, cresce, amadurece e ganha espaço com Paulo Sousa encaixando-o na ala esquerda. Já Everton Ribeiro, que não se readaptou aquele setor, voltou à meia.

"Eu sempre fui contra negócio de rodízio. É bom na churrascaria. Sou totalmente contra. Como técnico, a mesma coisa. O jogador quer jogar", disse Zico a O Globo. O problema é que não sempre é possível jogar todas, como bem sabe e a própria história mostra.

Mas até mesmo o apelo por um time titular já não se justifica tanto. Quando em condições, oito jogadores têm atuado em todas: David Luiz, Filipe Luís, João Gomes, Thiago Maia, Everton Ribeiro, Arrascaeta, Bruno Henrique e Gabigol. Já Willian Arão tem sido titular, mas na zaga, em caráter emergencial.

Com a chegada de Pablo, pode-se imaginar um nono integrante dessa lista se firmando entre os que, nos principais compromissos, e em condições adequadas, serão titulares. Em suma, existe uma base. E Matheuzinho era o dono da ala direita ate se lesionar.

Na prática, há um rodízio no gol, com Santos na Copa Libertadores e Hugo jogando o campeonato brasileiro, algo bem discutível, de fato. Nas outras dez posições existem titulares, ou algo próximo disso, pelo que o técnico português vem mostrando.

Fica evidente que há muito do imaginário com relação aos times históricos de 1981 e 2019. Nem tudo que se repete e as pessoas vivem dizendo traduz os fatos. E nem mesmo o grande Zico escapa disso.

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