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Mauro Cezar Pereira

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Mauro Cezar: Isonomia, palavra que não cabe no futebol da hipocrisia

Torcedores do Cruzeiro, de campeão à Série B - Getty Images
Torcedores do Cruzeiro, de campeão à Série B Imagem: Getty Images

09/09/2021 08h05

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Um clube monta elenco forte, mas não paga FGTS e atrasa salários frequentemente. Outros cumprem suas obrigações religiosamente e levam a campo o time possível dentro de sua realidade financeira. Todos disputam as mesmas competições. Onde está a isonomia?

Antes da pandemia, alguns times jogavam nas casas dos adversários com 5%, 10% da capacidade do estádio a apoiá-los, dependendo do regulamento da competição. Mas quando recebiam os mesmos oponentes, vendiam 2% dos bilhetes aos visitantes. Isonomia?

Já houve clube que foi à casa do outro e contou com a presença de sua torcida. Mas apelou para recomendações de autoridades locais e conseguiu vetar torcedores que não os seus quando recebeu esse mesmo adversário em seus domínios. Isonomia?

Tem clube que acumula dívida colossal, arrecada muito menos do que seria algo próximo para reduzi-la a patamares aceitáveis. Mas conta com mecenato, contrata jogadores que não poderia ter sem o dinheiro que não é dele. Como a confederação não coloca o fair play financeiro em vigor, fica por isso mesmo. Isonomia?

Houve clube campeão brasileiro com elenco caro que não recebia salários em dia, longe disso. Não por acaso vários jogadores zarparam para a China ao final da temporada. Lá o dinheiro caía na conta, afinal. Para trás deixaram um título nacional ganho com doping financeiro. Isonomia?

E teve também clube onde se cometia tantas irregularidades que a polícia bateu lá e o Ministério Público entrou com investigação quando o real estado de coisas tornou-se público a partir do trabalho de jornalistas. Mas ganhou títulos nacionais que não foram nem serão revogados, também com doping financeiro. Isonomia?

Em meio à pandemia, teve clube forçando para voltar a jogar e outros tentando se aproveitar do surto de COVID-19 no elenco do adversário para obter ganho esportivo. Isso mesmo. Isonomia?

No futebol brasileiro os certames não param quando as seleções se reúnem. Assim, alguns clubes, entre eles os que pagam tributos e salários em dia e reforçam seus times; jogam rodadas seguidas muito desfalcados. Isonomia?

Mais: isso os prejudica e beneficia adversários que têm a sorte de enfrenta-los em períodos de Data Fifa. Algo que causa prejuízo técnico também aos demais, que jogam contra eles quando estão inteiros. São várias consequências nocivas criadas pelo calendário da CBF, como um time forçado a jogar quatro vezes em oito dias, como vimos em 2020, enquanto outro adiava compromissos que foram agendados lá na frente, quando as oportunidades surgiram. Isonomia?

Na Premier League os primeiros jogos com público na pandemia acontecerem em alguns (não em todos) estádios localizados em cidades específicas nas quais o cenário era menos preocupante. Com o ok de autoridades sanitárias. Na Eurocopa havia lotação máxima em arenas de países como a Hungria e cerca de 22% em outras, na Alemanha, por exemplo. Até lá vale a pergunta: isonomia?

A volta do torcedor aos jogos de futebol no Brasil deveria ser debatida faz tempo. Para que fosse encontrado o melhor caminho e o protocolo mais adequado quando fosse o momento.

Em tese o melhor seria o público voltar em todos os estados ao mesmo tempo. Embora a retomada europeia não tenha seguido tal caminho, longe disso. Estariam totalmente errados? Discutível.

Nem a sul-americana seguiu o modelo isonômico. Flamengo e Atlético Mineiro obtiveram vantagem esportiva sobre os argentinos Defensa y Justicia e River Plate, que os receberam sem público e os visitaram com torcidas rivais presentes. E foram eliminados pelos brasileiros.

A discussão sobre os critérios para a volta do público é fundamental. Todos com as mesmas possibilidades, na teoria, o ideal. Óbvio que a postura do Flamengo é egoísta, mas não é nova, pelo contrário, segue a linha dos rivais que se encaixam nos exemplos acima e pensam apenas neles, tirando proveito dos absurdos desse calendário, inclusive.

E tudo isso ocorre diante da CBF. Ela nada faz contra o desequilíbrio que manda para longe critérios isonômicos. Ao contrário, estimula as diferenças técnicas com a não paralisação das competições quando as seleções jogam e não colocando o fair play financeiro em prática.

Isonomia? No futebol brasileiro? Deixem de hipocrisia.

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