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Mauro Cezar Pereira

ANÁLISE

Texto baseado no relato de acontecimentos, mas contextualizado a partir do conhecimento do jornalista sobre o tema; pode incluir interpretações do jornalista sobre os fatos.

Tite virou "comunista" em meio à ilusão da esquerda e devaneios da direita

Tite, técnico da CBF: "comunista"? - Reprodução/CBF
Tite, técnico da CBF: "comunista"? Imagem: Reprodução/CBF

07/06/2021 13h09

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Nos últimos dias Tite foi chamado de "comunista" por gente que se posiciona politicamente como "de direita" nas redes sociais. Memes com a imagem do técnico aparecendo como se fosse um revolucionário bolchevique pipocaram por aí. Podem ser compreendidos como peças de humor, mas choca perceber que não foram poucos os que o imaginaram como um contestador, algo que não tem a menor conexão com sua trajetória ultramoderada.

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Também beira a ingenuidade crer em um grupo de jogadores (brasileiros) de futebol questionando, de fato e com veemência, a realização de um evento como a Copa América por questões além do campo e bola e de seu próprio ambiente. No pessoal que se apresenta como "de esquerda" houve quem levasse fé em tal possibilidade. Você pode encontrar um ou outro que tenha tal postura, mas um grupo? Não, esse não é o perfil médio dos atletas.

Houve de tudo nesses dias. Casemiro, capitão da seleção, foi saudado como "patriota" por uma entrevista após o jogo contra o Equador. Como se ele tivesse discursado contra a realização do certame e criticado a forma absurda como o governo federal lida com a pandemia desde seu início. Na verdade, o meio-campo do Real Madrid pouco esclareceu, embora tenha sido menos evasivo do que Tite em suas falas durante a semana.

05.jun.2019 - Neymar e Jair Bolsonaro se encontram em hospital de Brasília - Reprodução/Instagram/Jair Bolsonaro - Reprodução/Instagram/Jair Bolsonaro
Neymar com Jair Bolsonaro em Brasília, em 2019
Imagem: Reprodução/Instagram/Jair Bolsonaro

Que há uma insatisfação de jogadores e comissão técnica está claro e aparentemente eles não são favoráveis à realização da Copa América no Brasil. Mas daí a peitarem CBF, Conmebol e Jair Bolsonaro, se recusando a jogar e treinar o time, vai uma enorme distância. Sem o problema interno que atende pelo nome de Rogério Caboclo, presidente da CBF afastado, decidiram que vão a campo.

Se confirmada a participação desses profissionais no evento que está programado para começar no domingo, ficará (ainda mais) claro que o real motivo da insatisfação era o polêmico cartola tirado de cena. O que faz todo o sentido se observarmos os perfis dos personagens, como Neymar, de longe principal nome entre os jogadores convocados, que sempre demonstrou simpatia pelo presidente da República, em aparições públicas, inclusive.

Possivelmente dirão que aceitaram jogar "sob protesto", o que na prática nada significaria. Fato é que jamais foram claros quanto aos motivos da insatisfação. A tentativa de aproveitamento político de lado a lado despertou o surgimento de termos elogiosos ou que tentavam denegri-los, mas com o passar dos dias vai ficando evidente que nenhum desses rótulos combina com treinador e maioria dos jogadores. Um show de distorções da esquerda à direita.

Quem no governo vai ligar para o "jogar sob protesto" se Bolsonaro aparecer no estádio vestindo a camisa cebeefiana, torcendo pelos jogadores "insatisfeitos"? E vibrando com vitórias! E na Conmebol e na CBF, com acordos comerciais e investimento já feito entre US$ 30 milhões e R$ 40 milhões, e daí que os entrarão no gramado "sob protesto"? Podem até levar uma faixa, se quiserem. Alguém nas tribunas do estádio rirá, certamente.

E no final, comissão técnica e jogadores, com seu suposto protesto nada claro que se arrasta há dias, terão turbinado uma disputa pela realização, ou não, da competição. Se a bola rolar na Copa América, os que defendem o evento no Brasil a qualquer custo sairão vencedores nessa queda de braço. E muitos dos que desejam a competição sequer a querem por razões políticas, nem futebolística, mas sim financeiras.

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