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Mauro Cezar Pereira

REPORTAGEM

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Rubro-negros querem deixar de ser "time ioiô" de vez em 2021

O presidente do Atlético-GO, Adson Batista - Divulgação
O presidente do Atlético-GO, Adson Batista Imagem: Divulgação

27/04/2021 04h00

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Ao retornar à primeira divisão do futebol brasileiro em 2020, o Atlético Goianiense era apontado como um dos mais fortes candidatos ao rebaixamento. Mas em campo foi muito bem, com vitórias marcantes, caso dos históricos 3 a 0 sobre o Flamengo, detentor do título e que viria a ser campeão mais uma vez.

O Dragão nem sequer correu o risco de ser devolvido à segunda divisão, pelo contrário, passou com sobras no teste enquanto o rival, Goiás, e times que já foram campeões da Série A, como Vasco, Botafogo e Coritiba, desciam mais uma vez para a B. O presidente do Atlético, Adson Batista, há quase 16 anos no clube, conversou com o blog.

Como o Atlético espera deixar de ser time ioiô?
Esse é o nosso grande desafio, o clube está muito preparado internamente e com esse objetivo. Temos estrutura invejável, com estádio e Centro de Treinamentos. Temos que privilegiar a base, ter muito critério nas contratações, por isso fazemos um trabalho de observação muito profundo, pois clube ioiô dificilmente conquista espaço no futebol.

O Goiás caiu e o Atlético seguiu na primeira divisão, o que há de diferente entre os clubes hoje?
Estamos há 15 anos fazendo um trabalho planejado, são filosofias diferentes e o Atlético tem conseguido uma gestão saudável, de um clube que não busca trabalhar somente com nome, com jogadores que têm perfil ex-jogador, mas sim com jogadores que tenham saúde e condições técnicas. Com isso, temos conseguido os resultados e investido na base. Hoje são sete jogadores da base no elenco, e eles têm condições de jogar, vêm jogando o campeonato goiano. Temos atletas de um nível técnico muito bom e dentro disso vamos dar mais espaço para a base. É inegável que a pandemia dificultou muito porque muitas competições de base foram interrompidas.

Qual a folha de pagamento?
O gasto total do clube, administrativo, futebol, tudo gira em torno de R$ 2 milhões. Respeitamos muito o orçamento, procuramos trabalhar com antecedência para encontrar o perfil certo, honrando os compromissos, pagando os impostos, o Profut. E ano a ano temos um valor maior de investimento.

Qual a dívida do clube?
A divida hoje não é grande, em torno de R$ 25 milhões. Não atrasamos as parcelas do Profut e esperamos conseguir saldar esse débito. A dívida trabalhista está praticamente quitada e a receita em nosso balanço do ano passado ficou em torno dos R$ 60 milhões.

O clube tem receita inferior à maioria dos times da Série A, como procuram minimizar essa desvantagem financeira?
Sendo organizados. Nosso clube é enxuto e organizado, não temos funcionários sem função, as coisas são funcionais aqui. O Atlético procura fazer uma triagem muito profunda.

Vão investir mais no time em 2021 na comparação com 2020?
É possível. No ano passado, ficamos em torno de quatro meses parados. Mesmo sem torcida, sem paralisação vejo possibilidade de um maior investimento, mais uns R$ 10 milhões a R$ 12 milhões no elenco profissional. O carro chefe é a Série A, estamos disputando Sul-Americana, Copa do Brasil, campeonato goiano, mas o foco é a Série A com o objetivo de tentar fazer mais com menos e surpreender, conseguir uma classificação melhor. O que posso garantir é que será uma equipe equilibrada técnica e taticamente. Não é só com dinheiro que se faz futebol, mas com organização e compromissos sendo honrados.

Em 2020, o time perdeu o técnico Vagner Mancini no meio do campeonato, algo comum, mas não correu risco real de rebaixamento. Como lidam com isso?
Isso é um desafio, tem que ser uma gestão próxima e presente, principalmente com um plano B. Não podermos acusar o golpe e ver o clube definhar. Mancini estava muito adaptado, mas saiu por uma situação que profissionalmente para ele foi melhor. E tem sido assim, os treinadores do Atlético saem por que estão fazendo bons trabalhos. Foi também o caso do Marcelo Cabo. Temos um mapeamento interno que fazemos sempre com atletas e técnicos, um banco de dados e uma comissão técnica permanente com três auxiliares do clube, preparadores físicos, fisiologistas... São 18 pessoas, protocolos próprios e definidos. Aqui treinador não chega e muda tudo, ele tem que se adaptar às nossas características de jogo. O clube tem um hotel dentro do CT e um ambiente favorável para o desenvolver um bom trabalho.

Já houve caso de técnico não ser contratado por não se encaixar com o estilo de jogo do clube?
Temos que fazer avaliações previamente. São coisas que vamos amadurecendo. Já aconteceu de avaliarmos e não contratar. Mas fazendo uma entrevista, uma conversa antes do acerto, isso tem nos ajudado.

Como o senhor define o estilo de jogo do Atlético?
Montamos equipes sempre reativas, mas, às vezes, o time joga com linhas altas, dependendo do adversário. Temos analistas de desempenho, jogamos de maneira ofensiva e privilegiamos atletas com força e velocidade, perfil próprio de um clube emergente e que sabe o seu tamanho. Sabemos que não temos condições de ser um Flamengo, Palmeiras, São Paulo. Fui atleta profissional por 10 anos e temos uma visão. Nesses 15 anos de clube tiramos o Atlético da segunda divisão goiana e tivemos muitas conquistas depois de 30 a 40 anos jogado no lixo, mal administrado. Sorte é que não perdeu seu patrimônio.

O clube passou muitos anos afastado das disputas, mas hoje é o que mais se destaca entre os goianos, quando rebaixado, logo volta à Série A. O que mudou?
O começo, há quase 16 anos, foi quando fui convidado pelo Valdivino de Oliveira, então presidente, que é um grande atleticano. No início, foi com recursos próprios, mas era tudo muito mais barato. O clube conseguiu alguns patrocínios e com grandes atleticanos demos o start e conseguimos fazer o time ser autossustentável. Foi um desafio muito grande, passamos por muitas dificuldades, mas tive liberdade para trabalhar, trocamos de presidente e tivemos convivência harmônica. O clube tem um conselho muito unido e perfil bem diferente dos de nossos adversários locais.

E sua trajetória no clube?
Comecei como diretor de futebol. O Atlético é o clube mais antigo de Goiânia, era o maior do Estado até os anos 1970, mas daquela década até 2004, sempre teve dificuldades e era mal gerido. Foram 10 anos como diretor, depois vice e agora estou terminando o meu primeiro mandato como presidente.

Qual o salario mais alto do clube?
R$ 120 mil.

Como vocês lidam com os comentários sobre possível participação de Carlinhos Cachoeira no clube?
Isso foi a maior aberração, eu conheço ele à distância. Nunca veio ao clube. Ele torce pelo Anapolina. Valdivino apenas conseguiu um patrocínio no calção e ninguém sabia que esse homem ia virar o que virou no Brasil. Somos o clube que rivaliza com o Goiás, esse discurso foi criado e não tem o menor sentido. Foi mais algo falado fora do estado porque foi criado por rivais, colocaram em rede social que era o time do Carlinhos Cachoeira, mas nunca tivemos dinheiro nenhum desse homem aí.

CT, estádio, time mais forte, como viabilizaram isso tudo?
Tínhamos um estádio muito acanhado e fomos fazendo a reforma, com pré-moldados, aos poucos. Hoje temos um estádio para 13 mil a 14 mil pessoas sentadas e queremos melhorar ele. Foi o Atlético que conseguiu isso.

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