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Mauro Cezar Pereira

Sem adversário em campo, torcida elege Globo como rival e turbina a Fla TV

Willian Arão, do Flamengo, dá passe durante partida contra o Boavista: mais de 2,2 milhões de espectadores simutâneos - Thiago Ribeiro/AGIF
Willian Arão, do Flamengo, dá passe durante partida contra o Boavista: mais de 2,2 milhões de espectadores simutâneos Imagem: Thiago Ribeiro/AGIF

02/07/2020 03h18

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Novo recorde de audiência nas transmissões na internet no Brasil. Mais de 2,2 milhões de espectadores simultâneos no momento de pico. Batida a marca de Grêmio 0 x 0 Internacional, pela Copa Libertadores, exibido em março pelo Facebook. Com tudo isso, Flamengo 2 x 0 Boavista se transformou no jogo ao vivo de maior audiência no Brasil pelo YouTube.

Fica evidente que a vitória, fácil, protocolar, dentro de campo, não se compara ao sucesso que foi a transmissão da peleja pela Fla TV. No embate com o grupo Globo, o clube conseguiu vencer na justiça, em campo e na exibição do jogo, com elevada monetização pela plataforma de vídeos via internet, patrocínios etc. Se todo jogo fosse assim, seria lindo.

Mas não é. A realidade não nos reserva a toda hora o Flamengo, em um dos melhores momentos de sua história, há 109 dias sem um jogo com transmissão. Sim, o duelo com a Portuguesa, em 14 de março, foi mostrado pelo site Globo Esporte e via Fla TV, no YouTube, enquanto a partida frente ao Bangu, na volta do campeonato carioca, não teve exibição alguma.

A demanda reprimida era, obviamente, imensa, com a maior torcida do Brasil ansiosa ante a oportunidade de rever seu forte time em ação. Cenário turbinado pelo duelo com a Globo, que, diante da falta de adversários em campo neste campeonato, se transformou no oponente a ser batido para muitos rubro-negros, ávidos por mostrar a força da torcida sem a rede de TV.

Assim, desafiar o poderoso grupo de comunicação ganhou contorno de uma final de Libertadores. Mas é preciso entender que raras pelejas terão essa moldura dourada do confronto contra o modesto Boavista, que até resistiu bem, ainda mais diante das chances desperdiçadas pelos rubro-negros. O imenso intervalo com apenas uma apresentação ainda pesou.

Na planilha, provavelmente os dirigentes exibirão resultados positivos, orgulhosamente. Mas não podemos ignorar os custos de produção, o prejuízo do jogo frente aos banguenses e a inexistência de receita do gênero em todas as 12 partidas anteriores pelo certame. O Flamengo só agora faturou algum dinheiro por exibir um jogo no Estadual em 2020.

Gerson fez um golaço, o segundo na vitória do Flamengo sobre o Boavista - Alexandre Vidal/Flamengo - Alexandre Vidal/Flamengo
No primeiro jogo com patrocínio da BRB, Flamengo venceu o Boavista com golaço de Gerson
Imagem: Alexandre Vidal/Flamengo

Além disso, os números excepcionais para esse tipo de transmissão passam longe do alcance das pelejas mostradas pela TV. Jogos do Brasileiro, por exemplo, atraem, em média, 7,3 milhões de indivíduos por partida em televisão aberta, segundo o IBOPE Repucom. Já as partidas de enorme importância alcançam dezenas de milhões de torcedores por todo o país.

Em um universo próximo a 29 milhões de pessoas com TV paga, estima-se que 40% pararam para ver a bola rolando em algum momento durante a edição 2019 da Série A nacional. Alguém dirá que a maioria não tem pay-per-view. Fato, eram menos de 2 milhões de assinantes no ano passado. Mas é incalculável o número de torcedores que procuram locais como bares para acompanhar seus times ao vivo. Eles já sabem o caminho.

Os rubro-negros se espalham por todas as classes sociais e estão em cada canto do país. Para alcançar a massa, a televisão ainda é ferramenta fundamental. É por meio dela, principalmente, que Real Madrid e Barcelona paralisam o planeta quando se enfrentam e os ricos times ingleses invadem continentes há décadas com a Premier League. Nenhum deles se limita a transmissões pela web. Até porque isso significaria rasgar dinheiro.

A tecnologia de streaming existe desde os anos 1990 e sempre esbarrou na falta de banda larga dos usuários, obstáculo que diminui a cada ano, mas persiste. Óbvio, ganha terreno, mercado, como mostram Netflix e Amazon Prime. Mas apesar do crescimento de tais serviços, filmes e séries ainda são exibidos na televisão. Estamos diante de uma transição, ou seja, o caminho para a mudança da televisão convencional ao computador (sim, Smart TVs integram tal grupo) não foi completamente percorrido por enquanto.

O Flamengo, como todos os clubes no futebol pelo mundo, ainda não poderá abrir mão da televisão como meio para alcançar o público, satisfazer patrocinadores e faturar. E mesmo nesse imbróglio com a Globo, sabe que na competição mais rentável, seguirá tendo os cofres (bem) abastecidos por ela, afinal, o contrato entre as partes pelo Brasileirão vai até 2024.

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