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Mauro Cezar Pereira

Presidente do Inter se desculpa por "frase infeliz" e clube demitirá mais

Marcelo Medeiros: "Foi uma maneira equivocada de me expressar" - Transmissão TV Inter
Marcelo Medeiros: "Foi uma maneira equivocada de me expressar" Imagem: Transmissão TV Inter

03/05/2020 19h18

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Uma frase do presidente do Internacional em entrevista à Rádio Guaíba repercutiu mal na sexta-feira: "Tenho certeza que todo mundo quer trabalhar. Um outro problema que estamos enfrentando agora é a questão econômica. Jogador que não quiser jogar pode pedir demissão. Se for aberta a possibilidade de o futebol voltar, ele vai cumprir o contrato que ele assinou", disse Marcelo Medeiros.

Em seguida, o mandatário colorado foi ao Twitter e se retratou: "Hoje, uma declaração minha acabou sendo interpretada de forma negativa. Peço desculpas por qualquer mal-entendido". O blog conversou com Medeiros sobre a polêmica, o retorno dos jogadores às atividades e sobre o futuro próximo do clube. O dirigente antecipa que demissões já aconteceram e outras virão nos próximos dias.

O que o senhor quis dizer com aquela frase?
Foi uma maneira equivocada de me expressar. Se tu te expressas de uma forma e ela gera dúvidas, questionamentos e várias interpretações, é porque não fostes claro em sua maneira de abordar o assunto. O que eu quis dizer? Desde que começou esse momento que estamos vivendo, contraí o COVID-19, passei 16 dias em isolamento. O presidente do Grêmio a mesma coisa. Outros oito dirigentes dos dois clubes que estavam no jantar realizado na véspera do Grenal da Libertadores também tiveram a doença. Jamais iríamos colocar a saúde de funcionários, atletas, imprensa em risco. A secretaria municipal de saúde de Porto Alegre liberou atividades físicas externas nesse início de apresentação dos jogadores.

Como isso está sendo preparado?
Sábado fizemos uma simulação com protocolos, segurança, higienização, etc. Os jogadores, embora em férias, vinham seguindo um cronograma de atividades físicas par quando pudessem voltar a trabalhar. Em cima disso, na sexta-feira atendi alguns veículos de Porto Alegre e estávamos falando sobre como vai funcionar o dia a dia do Inter. Os jogadores se apresentam terça-feira, amanhã a comissão técnica vai se reapresentar e todos os protocolos de higiene e segurança serão divididos na véspera da apresentação dos jogadores. O CT do Inter e o do Grêmio são parecidos, às margens do Guaíba. Quando a federação gaúcha e a secretaria municipal acenaram com tal possibilidade, os protocolos partiram do sistema público com orientação da federação aos clubes de futebol. Grêmio e Inter trabalharam juntos no aprimoramento desses protocolos, então o um fizer, o outro também fará

E a sua frase?
Aquela frase extremada, aquela situação não vai acontecer. Por que o jogador não vai se negar? Até lá ele vai ter treinamentos e diagnósticos, aprofundamento do treino, atividades com bola, treino com toda equipe, ate que entre em campo. E vários exames serão feitos. Na terça os jogadores chegarão em grupos de seis, virão fardados de casa, calçando tênis, sairão de seus carros, estacionados a mais de dois metros, vão para uma tenda, tudo externo, ninguém entra em academia, vestiário... Funcionários acima de 60 anos seguirão em casa e atletas terão diagnóstico, medição de temperatura, respiração e vão para atividade física. Um grupo às 9 horas, outro às 9h30 e assim por diante até às 11h30. Trabalha encerrado, entra no carro e vai para casa. Vamos monitorar jogadores, família e pessoas mais próximas. Se até a bola rolar algum atleta demonstrar insegurança ou medo, cuidaremos disso.

Qual foi o questionamento do repórter?
Se no dia da partida o jogador se negar a entrar em campo. E daí veio minha frase infeliz: "Se não quiser trabalhar, que peça demissão". O rico Flamengo demitiu 62 pessoas, a RBS (grupo de comunicação) 31, provavelmente o Inter fará algumas reduções. Como eu posso ter um discurso paternalista com os atletas? Esse foi o enfoque, não fui claro.

Por que e como o campeonato gaúcho já pode voltar?
Estamos vivendo uma loucura muito grande. Semana passada um dirigente do Flamengo me ligou preocupadíssimo com a situação do Rio de Janeiro, mas aqui no Rio Grande do Sul é diferente, estamos com uma curva baixa. Se tem condições de fazer o campeonato eu não sei, mas se nos permitirem trabalhar, vamos trabalhar. A secretaria de saúde Porto Alegre permitiu a volta da construção civil, das indústrias e profissionais liberais em atividades internas. A parte administrativa do Inter está fechada, museu, patrimônio, todos em casa. A minha colocação, eu me expressei mal, gerou essa interpretação. Eu nunca falei em demitir ninguém, não é isso. "Se alguém não quiser trabalhar e achar que deve sair, que peça demissão", mas isso não vai acontecer. Eu não quis entrar nos programas e fazer debates depois disso porque fui infeliz pela forma como me expressei.

E o técnico Eduardo Coudet, está no Rio Grande ou na Argentina?
O Coudet veio para Porto Alegre em caráter definitivo, de carro, viajou muitas horas e quando deu toda essa paralisação ele voltou a Buenos Aires. Houve até problema de fronteira em Uruguaiana. Ele passou o primeiro período da quarentena em Porto Alegre e quando foi liberado, quando a fronteira terrestre abriu ele foi para a Argentina. Soube que ele saiu de lá ontem (sábado) e já está em Porto Alegre, como os quatro profissionais que trabalham com ele. Amanhã vai se apresentar e passaremos a ele esse protocolo de segurança.

Qual sua expectativa para a volta aos jogos de futebol?
Cada vez que vejo o que está acontecendo, principalmente no Rio de Janeiro, São Paulo, Fortaleza e Manaus, ficou apavorado e com muito receio. Aqui na região metropolitana o isolamento começou de maneira organizada e os números nos tranquilizam para uma volta, em uma nova normalidade. Mas algumas cidades da Serra Gaúcha, como Passo Fundo e Lajeado, precipitaram a abertura com a flexibilização e os números subiram. Não estou totalmente tranquilo de que está pronto o ambiente para voltar. É uma situação difícil, estamos nos pautando pelo que dizem as autoridades sanitárias. Vamos trabalhar em grupos menores, de máscara, os jogadores terão que responder questionário sobre sintomas deles, dos familiares e amigos mais próximos, para que possamos ter as informações.

Qual a importância de esses outros Estados conseguirem controlar a situação para que o futebol volte?
Tenho medo de que o futebol não volte. Estamos vendo o que está acontecendo no Rio e em São Paulo. O termômetro da volta do futebol brasileiro está em SP. O que acontece em Manaus é uma tristeza, mas não está no circuito do futebol e o que vai determinar a volta será o aval das federações regionais. Quando as de São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais tiverem segurança para respaldar, vão voltar. Mas não estou vendo sinais nesse sentido e tenho muita preocupação.

Por exemplo?
Eu pergunto: primeiro jogo é um Grenal, jogamos com portões fechados. E se dias depois alguns jogadores apresentarem os sintomas? Vai parar o futebol brasileiro. O primeiro passo tem que ser muito bem dado para que não se dê vários passos para trás. Estamos dando passos rumo a treinamentos físicos externos, monitorando os jogadores e por isso minha resposta ficou fora do contexto, falávamos em um cenário hipotético. Se dois jogadores apresentarem sintomas durante o treinamento, o clube pode pedir cancelamento da competição por não se sentir confortável para seguir. Ninguém quer colocar a saúde em risco. Tenho escritório de advocacia e meu pessoal está trabalhando há mais de 45 dias em home office. Os 400 funcionários da área administrativa do Inter também. Mas futebol de base e feminino não estão trabalhando, somente o pessoal de campo do profissional voltará, equipes de outras áreas, como análise de desempenho, seguirão trabalhando de casa.

Crê em jogos já em maio?
Nos colocaram que havia interesse de começar em 17 de maio. Como o decreto da prefeitura saiu dia 1º e a reapresentação dos clubes se dará nesta semana, teremos menos de duas semanas pra o dia 17. Em 6 de maio, quarta-feira, o governador receberá o presidente da federação para tratar da volta, ou não, do campeonato gaúcho. Pode ser que não volte e aí teremos que tomar outra medida junto ao grupo de atletas. Clubes do interior questionam quem vai pagar pelos testes, que custam em torno de R$ 200 cada kit, sendo que com 100 se consegue aferir um número considerável de profissionais num departamento de futebol. Então está em debate. Se o campeonato gaúcho voltar até o final de maio ou começo de junho, mais algumas rodadas e termina.

E é importante por causa do dinheiro da TV...
Ela parou de pagar, queremos concluir para receber essa receita.

Qual sua avaliação sobe o balanço financeiro de 2019 do Internacional?
Em nosso primeiro ano o déficit foi de R$ 60 milhões, reduzimos para menos de R$ 15 milhões no seguinte e e no ano passado R$ 3 milhões. O Inter caminha apara em curto prazo chegar em resultado positivo. Se tivéssemos êxito na final da Copa do Brasil a diferença de premiação já bastaria ao fim do ano. Temos uma responsabilidade muito grande nesse sentido, de buscar equilíbrio financeiro e não cometer aventuras. Mas essa paralisação vai demandar uma redução. No dia 20 de março, já em isolamento, passamos uma normativa a todas as áreas com redução de 30% de cada. Antes da paralisação tínhamos tomado a decisão de extinguir o Inter B para agilizar a passagem do Sub 20 para o profissional.

Isso pesa quanto financeiramente?
Vínhamos fazendo um processo de redução de despesas. Com o Inter B fechando se economiza R$ 6 milhões a R$ 7 milhões por ano. Agora com essas questões que atingem toda a atividade econômica do país, teremos que fazer algo mais profundo em relação à folha de pagamento, de salários e possíveis demissões, renegociação de dívidas, de prestadores serviços e fornecedores, sistema financeiro... O cinto vai ter que apertar.

De que maneira?
Faremos uma cirurgia principalmente na parte administrativa. Já fizemos alguns desligamentos no departamento de futebol, algumas mudanças na base, mas essa semana vamos noticiar esses movimentos.

Quantas demissões?
Ainda não sei porque não fiz a checagem final dessa operação, vou para o clube na manhã de segunda-feira me reunir com o "Comitê de Crise".

Os salários dos jogadores foram reduzidos?
O acerto com os atletas está alinhado. Já foi noticiado.

"Congelamento" do pagamento de direitos de imagem pelo menos por três meses, o que significa menos 30% a 40%, podendo se estender de acordo com a recuperação de fluxo de caixa mais próximo de sua normalidade. Essa diferença será paga em 2021. Também houve uma redução da remuneração do técnico Eduardo Coudet. Confere?
Próximo disso. Não tem como detalhar ou particularizar. Entramos na privacidade dos profissionais.

Qual sua opinião sobre o trabalho inicial de Coudet?
Muito bom treinador, uma figura rara, um cara muito bem humorado, muito estudioso de futebol. A chegada do Jesus, Sampaoli e dele dá uma sacudida na forma de se pensar taticamente e o gerenciamento de grupos. O Coudet tinha uma missão, não podíamos errar, tínhamos que chegar à fase de grupos, por isso ele adotou algumas estratégias mais conservadoras, especialmente fora de casa. Na fase de grupos começou a mostrar futebol mais solto, ofensivo. Fizemos um bom Grenal na Arena e a semente do trabalho dele está plantada.

Muito diferente dos técnicos brasileiros?
A comissão técnica dele é maior do que as que tínhamos. A intensidade do treino é diferente, porque ele joga muito em campo reduzido. Nos tem agradado não só em tática e técnica, mas também na forma de se relacionar com jogadores e direção.