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Mauro Cezar Pereira

Atlético alega que dívida na Fifa faz atrasar salários e descarta reforços

Sérgio Sette Câmara, presidente do Atlético - Bruno Cantini/Divulgação/Atlético-MG
Sérgio Sette Câmara, presidente do Atlético Imagem: Bruno Cantini/Divulgação/Atlético-MG

23/04/2020 17h49

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O Atlético atrasou parte dos salários de março dos jogadores e dois meses em direitos de imagem dos atletas, como informou o UOL Esporte. Presidente do clube mineiro, Sérgio Sette Câmara, entrou em contato com o blog com as explicações do clube para tais pendências. Disse que o Galo tem o dinheiro, mas não pode pagar, sob o risco de ser punido pela Fifa por causa de uma velha dívida. Ele admite que, ao contrário do que se imaginava quando da chegada de Jorge Sampaoli, no momento é impossível contratar reforços.

Por que o Atlético está devendo salários?
Eu tenho o dinheiro, parte da venda do Chará (ao Portland Timbers dos Estados Unidos) para pagar os salários dos jogadores, inclusive os direitos de imagem. O problema é que tivemos a paralisação completa de todas as receitas. Não é novidade que a maioria dos clubes do Brasil trabalha vendendo o almoço para pagar o jantar. Tenho uma condenação alta na Fifa. São 2,177 milhões de euros, equivalentes na cotação de hoje, com a moeda em R$ 5,97, a R$ 12,996 milhões. E isso nos pegou na pior hora. Já paguei mais de R$ 48 milhões de ações na Fifa, estou pagando a conta de quem fez time antes de mim e não pagou.

Essa dívida é relativa a qual atleta?
A ação é pelo Maicosuel (custou 3,3 milhões de euros em 2014, na gestão do então presidente Alexandre Kalil), temos que pagar à Udinese. Fora outras contas e dividas que existiam que estou tentando organizar. Hoje a Fifa está mais dura. Eu não paguei março e dois meses de direito de imagem justamente por isso. O vencimento é à meia-noite do dia 28, segunda-feira, e estou tentando viabilizar outras fontes para poder pagar ou parcelar a divida da Fifa.

E se não pagar?
Perco três pontos no Campeonato Brasileiro. É difícil, eu escolho pagar os salários dos jogadores agora e tomo uma ação da Fifa ou adio esses pagamentos.

Mas essa é uma situação vivida por todos os clubes...
Sim, muito difícil conseguir manter um nível de pagamentos na medida em que se perde todas as receitas. Tínhamos enorme expectativa de arrecadar bem com o sócio-torcedor e com duas ou três semanas veio o problema do coronavírus. E não teremos bilheteria tão cedo.

Quais as receitas mais próximas?
A (TV) Globo não vai pagar todo o dinheiro previsto para abril, talvez 40% da primeira parcela referente ao Brasileiro, porque o campeonato não começará quando previsto. Uma carta foi enviada pelos clubes à Globo e todos mandamos e-mails a eles, assegurando ao Pedro Garcia (diretor de direitos esportivos da rede de TV), para que não ficássemos sem receber nada. E esses 40% vão ser consumidos rapidamente pelos clubes, não vai segurar muito tempo.

E quanto aos patrocinadores do Atlético?
Alguns, menores, deixaram de pagar e temos que entender o caso. Os associados estão suspendendo pagamento de mensalidade e até pedindo de volta o dinheiro que pagaram e não usufruíram. Não vendemos camisa... Então vira o caos absoluto.

Qual a chance de pagar logo os salários?
Se eu conseguir parcelar ou resolver a questão do Maicossuel na Fifa de alguma forma, consigo colocar em dia.

Antes da pandemia de coronavírus e paralisação das atividades no futebol o Galo contratou Jorge Sampaoli e se falava em reforços. E agora?
Na verdade eu sinto que não tenho a menor condição de falar em contratação. No momento em que se reduz até 25% de salários de atletas e colaboradores do clube que ganham acima de R$ 5 mil, não podemos pensar nisso.

Mas o clube contratou um técnico caro...
Contratamos um treinador que vale o quanto pesa, um diretor de futebol (Alexandre Mattos) também. Queremos ter condições de atender às solicitações, mas isso tem que ser trocando jogador, chegando um atleta e saindo outro, para não inchar a folha de pagamento. Mas estamos conjecturando, pois não se sabe quando o futebol volta e quando teremos torcida estádio.

E a relação com os jogadores com esse atraso e demais dificuldades?
Essa insegurança me preocupa em um aspecto pouco explorado, pois pela Lei Pelé diz que se atrasar mais de três meses o jogador pode pedir a rescisão na justiça. E todos os clubes têm em seus elencos patrimônio muito grande de jogadores adquiridos nos últimos anos.

O Alexandre Mattos tem atuado nesses dias no mercado de alguma forma?
Contratações estão em suspenso, o Alexandre Mattos conversa e faz prospecções, mas não podemos contratar ninguém agora, seria um desrespeito.

Então o Atlético vai voltar ao futebol com o elenco que tem?
Quando retornar o futebol a conversa com a televisão dará uma arrancada e até podemos tentar uma operação bancária, antecipar o valor. Se nesse momento tivermos ideia de quando voltaremos aos treinos e começará o campeonato, vamos fazer a organização interna de salários e tentar contratações para o Brasileiro. Durante o campeonato o mercado vai cair demais, vai faltar dinheiro, e podemos tentar aproveitar oportunidades.

Como?
Se um patrocinador quiser ajudar aumentando o valor do patrocínio, poderemos ir ao mercado. Um jogador que antes da crise valia 3 milhões de euros vai sair por um ou 1,5 milhão de euros, dependendo da situação do clube dele. O mercado europeu não vai contratar e fica o mercado interno praticamente.

Mas existe a contramão disso.
Sim, por outro lado não conseguiremos fazer boas vendas. Falam por aí que a Fifa pode fazer um janelão de julho até o fim do ano, para movimentar o mercado, vamos ver.

E quanto ao estádio?
O dinheiro nem passa pelo Atlético, é algo totalmente independente.