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Mauro Cezar Pereira

Bizarra e ineficaz, torcida única completa 4 anos no futebol de São Paulo

03/04/2020 20h00

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São 1.461 dias sem que clássicos paulistas, e até jogos envolvendo os times de Campinas, recebam visitantes. Graças à torcida única, medida paliativa que se tornou definitiva e serve apenas para iludir parte da sociedade. A lembrança foi feita pelo jornalista Rodrigo Barneschi em sua conta no Twitter.

Nessas 209 semanas, a violência envolvendo grupos de torcedores continuou na região metropolitana da capital do Estado. Até porque há muitos anos as brigas, os confrontos, ocorrem muito mais longe dos estádios.

Só no ano passado diversos foram registrados. Em 14 de abril, já pela manhã, uma briga entre torcedores de Corinthians resultou em 14 feridos. Foi em Ferraz de Vasconcelos, a quase 50 quilômetros do Morumbi, onde os times jogaram horas depois na decisão do Campeonato Paulista.

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Mas nem é preciso ser de times diferentes para brigar. Em 2 de maio, grupos rivais da Mancha Alviverde, se enfrentaram no Tatuapé, a mais de 40 quilômetros de Caieiras, onde o grupo de palmeirenses atacado participaria de uma festividade. Um homem foi baleado e a polícia prendeu 14.

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São-paulinos da Torcida Tricolor Independente se enfrentaram em 27 de outubro na Praça da República, centro da capital. Pancadaria a cerca de 12 quilômetros do Morumbi, onde mais tarde o São Paulo recebeu o Atlético.

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Quatro dias depois, um torcedor do São Paulo foi espancado por palmeirenses perto da estação Vila Clarice da CPTM em Pirituba. O linchamento ocorreu horas depois da partida entre as equipes e o tricolor teve os dois braços quebrados e ferimentos na cabeça.

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São inúmeros casos, e aqui citamos apenas alguns do último ano. Eles mostram que a torcida única nada resolve. Em junho de 2016, pouco depois de tal medida ser adotada. fui convidado a participar de audiência pública sobre o tema, na Assembleia Legislativa de São Paulo.

Mostramos que em vários países onde o veto aos visitantes foi adotado, as autoridades acabaram por desistir, pela ineficiência da medida e por retirar de torcedores que não brigam o direito de ir a um jogo de seus clubes. Os exemplos são vários, muito mais do que os acima lembrados.

É o caso da Holanda, onde estádios têm isolamento especial para jogos marcados por forte rivalidade. Apesar do elevados índices conectados à qualidade de vida, os holandeses também enfrentam problemas com o chamado hooliganismo, como em toda a Europa.

Na época, fiz um levantamento e a constatação foi: os estádios brasileiros eram seguros em 99,996% dos jogos do Campeonato Brasileiro. O pior ano havia sido 2013, com três brigas nas arquibancadas. Foram 820 jogos de Série A entre o último confronto daquele ano e o primeiro depois disso, em 2016.

Sim, 910 dias entre duas briga em estádios nos dias de jogos do Campeonato Brasileiro, com pontos em comum em falhas de segurança. Na Inglaterra há legislação própria. O cidadão é punido severamente se invadir o campo, imagine se brigar. Aqui é preciso ir atrás dos CPF dos que agem assim, mas se prioriza os CNPJs das organizadas.

Torcida única é a sociedade se rendendo a uma minoria. Tiraram as bandeiras, o papel picado, a fumaça, os piscas (não confunda com o sinalizador naval que matou um menino em Oruro, na Bolívia). Depois tiraram o visitante. Com o coronavírus, saíram todos os torcedores da arquibancada.

Os coveiros do futebol devem estar adorando isso.