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Marcel Rizzo

REPORTAGEM

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Sem CBF, empresa que vende jogos da seleção produz filme de Pelé na Netflix

"Pelé": documentário da Netflix mergulha na vida do Rei do Futebol - Reprodução
"Pelé": documentário da Netflix mergulha na vida do Rei do Futebol Imagem: Reprodução

Colunista do UOL

25/02/2021 04h00

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Produtora do documentário sobre Pelé que estreou nesta semana na Netflix, a Pitch Productions é um braço da Pitch International, empresa que detém a comercialização dos jogos da seleção brasileira de futebol.

Com sede na Inglaterra, a Pitch subloca da ISE, controlada pelo grupo saudita Dallah al Baraka, desde 2012 o direito dos amistosos do Brasil — na prática, a Pitch decide onde e contra quem a seleção jogará partidas não oficiais, o que já gerou polêmicas e reclamações do técnico Tite.

O braço da Pitch de produção de documentários é mais recente e já rendeu uma parceria com a CBF: foram os ingleses que produziram o filme que mostrou os bastidores da campanha da seleção na Copa América de 2019. O material fez parte da série All or Nothing da Amazon Prime Video — que já rendeu temporadas com equipes do futebol americano, com a seleção neozelandesa de rúgbi e com times como Manchester City e Tottenham.

Para o documentário de Pelé, a CBF não teve participação direta. O filme tem um enfoque político, retratando o futebol e Pelé no período mais duro da ditadura no fim dos anos 1960 e início dos anos 1970, e apesar de a CBD (a então CBF) aparecer com o governo na pressão para Pelé jogar a Copa de 1970, no México, não há referências diretas a dirigentes atuais ou da época. Nos créditos há uma citação de agradecimento à CBF junto com outras 80 pessoas ou entidades, apenas isso.

RELAÇÃO TENSA

A CBF vendeu os jogos da seleção brasileira à ISE em 2006. Primeiro os sauditas repassaram para uma empresa chamada Kentaro, mas em 2012 trocaram o parceiro, fechando com a Pitch International, que tem boa reputação na Inglaterra.

Durante os anos, porém, foram muitas reclamações dos treinadores da seleção com relação ao nível dos adversários e locais das partidas, muitas vezes exigindo longas viagens dos atletas que atuam na Europa, por exemplo.

Os últimos dois jogos organizados pela Pitch International foram em novembro de 2019, amistosos contra Argentina (0x1) e Coreia do Sul (3x0) na Arábia Saudita e Emirados Árabes, respectivamente.

Por causa da pandemia, em 2020 o Brasil só foi jogar em outubro, já pelas Eliminatórias no que a Pitch não tem responsabilidade. Isso deve se manter em 2021 e boa parte de 2022 — é possível que a empresa só volte a organizar partidas da seleção em meados do ano que vem.

Em 2019, Tite reclamou publicamente da empresa. Primeiro nos EUA, em setembro:

"A Pitch precisa cuidar disso, sim. Tem de ter um campo melhor para jogar. Não pode ter um campo desse, não dá para ter um espetáculo num gramado desse. Dá para jogar 'soccer', dá para jogar de tênis", criticou Tite, após o duelo contra o Peru disputado em um desgastado gramado do Coliseu de Los Angeles.

"O que mais me deixou chateado foi a falta de respeito da Pitch com a seleção brasileira e a de Senegal também por não trabalharmos no campo de jogo. Isso me deixou descontente. Atletas de alto nível merecem respeito maior. O campo não é o ideal, não nos atende", reclamou novamente nos amistosos de outubro de 2019 em Singapura contra Senegal e Nigéria.

Como mostrou o UOL Esporte em 2019, a CBF não vê possibilidade de rompimento do contrato por alguns motivos, entre eles uma alta multa rescisória. A cada jogo, a Pitch paga três milhões de dólares à CBF (R$ 16,2 milhões em valores atuais) e fatura com venda de ingressos, acordos publicitários pontuais e valores pagos por cidades e países que querem receber a seleção brasileira.