Três a três
POR LUIZ GUILHERME PIVA
1.
Sou a favor de o jogador subir com os dois pés na bola, fazer sinal de silêncio pra torcida, tirar a camisa na hora do gol, reclamar por ser substituído, fazer cera, ir pra farra nas horas de folga, se recusar a jogar na altitude, declinar de convocação pra seleção, beber e fumar se quiser, pôr a bola na nuca, dar reboladinha na frente do marcador, jogar sem caneleira, bater pênalti de cavadinha, dar passe olhando para o outro lado, reclamar com o juiz, não voltar pra marcar, dar de bico pra longe e mudar de time quantas vezes quiser.
Agora, fingir que foi atingido no rosto e cair rolando e gritando com as mãos sobre olhos, nariz, boca e garganta - faça-me o favor!
Com trezentas câmeras no jogo?
É ridículo!
Expulsão e gancho de um mês, no mínimo.
2.
O famoso empresário de futebol Juan Figer (1934-2021) disse, no Bola da Vez, da ESPN, em 2019, que, numa excursão, ficou até tarde da noite no bar de um hotel com o Sócrates e que, à falta do que fazer, passaram o tempo jogando xadrez verbal.
Cada um falava um movimento e mantinha o tabuleiro e o jogo na mente.
É muito, muito difícil jogar assim.
Fiquei esperando ele dizer que o Magrão estava de costas, como se mexesse as peças com o calcanhar, mas ele não o fez.
Eu não duvido.
Mas ele deve ter achado que ninguém acreditaria.
3.
Hoje, PPP é uma operação econômica complexa entre os setores público e privado.
Quase cinquenta anos atrás era outra coisa: Playboy, Placar e Pasquim.
Sem essas publicações, ninguém sabia nada de nada, sobretudo os adultos, que tinham mãos, pés e cabeça acionados e acreditavam, assim, estar em perfeita forma física e intelectual.
A Placar e o Pasquim tinham em comum, na seção de cartas, um editor que achincalhava os missivistas: o Encapuzado, na primeira, e Edélsio Tavares, no segundo, tratavam-nos com humor e deboche - e essa era a fonte de seu sucesso.
O Tavares era heterônimo do Ivan Lessa, que chegava a inventar as próprias cartas dos leitores. O - para os íntimos - Capu eu não sei quem era.
A Playboy não tinha isso. Só saíam cartas refinadas e cheias de elogios.
Para as entrevistas, claro.
Que, aliás, eram ótimas.
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Luiz Guilherme Piva publicou "Eram todos camisa dez" e "A vida pela bola" - ambos pela Editora Iluminuras
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