Juca Kfouri

Juca Kfouri

Siga nas redes
Só para assinantesAssine UOL
Opinião

Neymar: a imaturidade de um jogador experiente

POR HUMBERTO MIRANDA*

A volta de Neymar ao Santos, que retornou à série A, dá ânimo à torcida. A volta de um ídolo feito em casa é um dos maiores orgulhos que qualquer torcedor pode ter. O Santos necessitava desse recomeço e a sua torcida ansiava por esperança. Qual o papel de Neymar nesse recomeço do Santos? A resposta somente ele poderá dar.
Faz tempo que o Peixe não dá a bola em nenhum campeonato que disputa. E agora, com a consagração do Botafogo em 2024, vencendo a Libertadores e o Brasileirão _ Santos x Botafogo foi clássico histórico que a moçada de hoje desconhece _, o Santos viu que podia fazer algo diferente e ousado dessa vez. O clube que saiu do fundo do poço pode se reerguer novamente. Esse elo entre Botafogo e Santos existe na tradição do futebol brasileiro, um espelha-se no outro. Foi possível reerguer o Botafogo, mas será possível reerguer o Santos? Ora, isso não dependerá apenas de Neymar. Ou pelo menos do Neymar que a gente conhece e não gosta do que vê (quando vê). Obs.: A questão da SAF é assunto para outro momento.
Neymar está, segundo seu próprio pai, no "último ciclo" da carreira. E o que um jogador faz no último ciclo é vivê-lo sem as cobranças de sempre e, de preferência, sem as contusões frequentes que o afastaram dos gramados nas últimas temporadas. Em campo, todavia, o Neymar de hoje precisaria se reinventar, segundo Tostão. E a primeira coisa a fazer para se reinventar é deixar de ser o "monstro" profetizado por René Simões. A experiência, aos 33 anos de idade, ajudaria a sufocar o monstro dentro dele?
Minha hipótese é que a experiência que Neymar adquiriu ao longo dos anos foi de imaturidade. O tal "menino Ney" é a fábula nunca esquecida de um jogador que foi preparado para sair do Brasil e conquistar o mundo. Isso não aconteceu do modo como sonhado, embora seus fãs não admitam e odeiem quem afirma isso. Voltar ao Santos é reencontrar-se com o "menino Ney", cuja carreira foi extraordinária e vitoriosa. É a isso que chamo de experiência da imaturidade. De novo, é uma projeção do ego de alguém que se considera superior em campo, mas que tem pouca ou nenhuma vontade de jogar coletivamente. Se ele quiser se reinventar, terá que mudar de comportamento e pensamento, porque o restante ele possui. Não, não estou querendo transformá-lo em outra pessoa, mas dizer que ele poderia ser um jogador bem melhor do que vimos ultimamente. Será?
Continua após a publicidade
O experiente-imaturo jogador, dado seu histórico recente, não teria capacidade de se reinventar, contrariando as ótimas ponderações de Tostão. Digamos que Neymar teria que assumir-se Ganso, ser com o outro, encontrar-se com o outro, humanizar-se, para reinventar a si mesmo. Tecnicamente falando, isso não seria difícil para ele. Alguém poderia dizer que Neymar não pode se contentar com pouco. Pouco? O que aconteceu com ele como jogador, nos últimos anos, foi menos que pouco. O crescimento emocional do homem Neymar é mais importante hoje do que nunca. Espera-se que ele demonstre ao seu torcedor esse crescimento. Ganso não é um bom parâmetro? Pode não ser, mas se reinventou no Fluminense. Só não é melhor do que foi porque demorou a amadurecer. Reinventar-se é achar seu bom futebol coletivo. Ronaldinho Gaúcho conseguiu no Galo, por que Neymar não pode conseguir no Santos? Só o campo dirá.
Independentemente do sucesso que fará no Santos durante sua curta passagem pelo clube, Neymar ainda pode ser o elo que falta ao meio de campo da Seleção Brasileira, mas, de novo, teria que demonstrar que pode se reinventar. Lá, encontrará seu ex-técnico, Dorival Júnior, que o conhece bem. Se algum jornalista perguntar a Dorival como Neymar pode jogar na Seleção, tenho certeza que otreinador vai saber responder bem na teoria, mas vai errar na prática. O treinador não é um novo desafio para Neymar, pelo contrário. O lugar de Neymar ainda não é a Seleção nesse momento, seria precipitado e até temerário convocá-lo por convocar.
O verdadeiro desafio de Neymar está no Santos, onde ele poderá demonstrar que o atual não será seu "último ciclo", mas sua última oportunidade de reinventar-se. Pedro Caixinha tem mais liberdade que Dorival para pensar, sem trocadilho, fora da caixinha como encaixar Neymar no time. Isso dependerá também de quanto o homem Neymar amadureceu realmente. A tendência é formar a sua turma (os parças) e o resto que se dane. A torcida é quem mais espera que isso não aconteça.
Continua após a publicidade

Opinião

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL

Deixe seu comentário

O autor da mensagem, e não o UOL, é o responsável pelo comentário. Leia as Regras de Uso do UOL.