Rodrigo Garro: muito além do número 8

Sócrates lutou por um ideal, em tempos muito difíceis de ditadura, a favor da democracia.

E o Corinthians tem orgulho de ter sido o instrumento que imortalizou seu gesto nas comemorações de gols e transcendeu as quatro linhas.

Mas ele defendeu um ideal porque acreditava nele e, sobretudo e com muita humildade, colocou esse ideal acima dele mesmo, o que é importantíssimo. O resto da história você conhece.

Pois eis que chega a nosso clube personagem extremamente carismático, ambicioso de sensibilidade muito acentuada para detectar a carência de uma nação por um ídolo, devido aos desaforos recebidos pelos dirigentes de sua paixão.

Começa então a trabalhar, fora das quatro linhas, de forma tão dedicada quanto ao futebol, para trazer alento à classe marginalizada, mal tratada e esquecida. Inclusive com seu povo africano.

Com a base feita e corações conquistados, inicia ano para ficar na história, dentro e fora de campo.

E daí vem à tona, ao menos para mim, o primeiro ato falho.

Não é um simples número.

Agora eu me pergunto onde está a sensibilidade para querer a camisa 10 e não a 8, que já está na pele desse menino maluquinho que, de fato, vive e respira Corinthians, só o Corinthians — que jogou as últimas 10 rodadas machucado porque entendeu que precisávamos. Que nos trouxe o melhor dos camisas 10; canhoto, habilidoso, marrento e irreverente.

Que está precisando de carinho e apoio em um momento delicado de sua vida.

Mas não, não houve sensibilidade.

Teve a vontade de ser o 10, o camisa 10, a estrela.

Teve, sim, três letrinhas que sobrepujaram a sensibilidade: ego. Que pena!

Talvez um dia entenda que os homens fizeram e fazem a camisa. O que vai muito além do número.

Parabéns Garro. Você merecia a camisa 18!!!

*Henrique Perosa Zanin é empresário.