Em clubes, Ancelotti já resolveu problemas que mais atormentam a seleção
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Carlo Ancelotti chega à seleção brasileira com as expectativas altas e o time em baixa. Mas o torcedor brasileiro tem motivos para estar otimista. Afinal, o italiano já mostrou, em sua carreira nos maiores clubes do mundo, que sabe solucionar os maiores problemas que a equipe pentacampeã enfrenta atualmente.
Se formos falar dos grandes dramas da seleção brasileira nos últimos anos, a lista terá a falta de um grande centroavante, a ausência de opções sólidas na lateral, e um meio-campo incapaz de dominar e controlar os jogos.
São três problemas graves, mas nenhum deles é novidade para Ancelotti. O treinador admite não gostar de ter um estilo próprio — "Quando você tem um estilo, os outros descobrem como jogar contra você", ele diz — e é um especialista em adaptar-se a situações adversas, incluindo dilemas análogos aos da seleção atualmente.

Cadê o centroavante?
Desde que Ronaldo vestiu a camisa 9 na Copa do Mundo de 2006, a seleção procura um centroavante que possa levá-la ao hexa. A busca vai completar duas décadas no Mundial do ano que vem.
A lista de Ancelotti para enfrentar Equador e Paraguai tem apenas Richarlison como um atacante mais fixo — Matheus Cunha também já exerceu a função. Endrick, o mais promissor centroavante brasileiro, está machucado e fora da Data Fifa.
No Real Madrid, Carlo Ancelotti enfrentou um drama parecido.
Em sua segunda passagem pelo clube espanhol, ele encontrou um time já sem Cristiano Ronaldo. Em suas primeiras três temporadas, conseguiu extrair o melhor de Karim Benzema, que conquistou a Bola de Ouro em 2022.
Quando o francês deixou o time, em junho de 2023, Ancelotti ficou sem um centroavante de alto nível — recebeu o espanhol Joselu, que havia sido rebaixado em La Liga com o Espanyol.

O italiano, então, montou um esquema tático sem centroavante, com Vini Jr. e Rodrygo atuando mais centralizados e Jude Bellingham, um segundo volante de origem, com liberdade para avançar como falso 9.
Resultado: Bellingham fez a temporada mais artilheira da carreira (23 gols, 14 assistências), e o Real Madrid ganhou a Champions League. O desafio de Ancelotti na seleção será encontrar esse perfil de meio-campista que sabe defender, mas também pisa na área e marca gols.
Dentre os convocados, quem tem o perfil mais parecido é o novato Andrey Santos, que fez ótima temporada pelo Estrasburgo, emprestado pelo Chelsea. Caso queira uma "versão mais ofensiva" desse falso 9, Estevão e Matheus Cunha aparecem como opções.

E esses laterais, hein?
Os últimos anos da seleção brasileira têm sido de carência também nas laterais. Nas últimas temporadas no Real Madrid, Ancelotti passou pelo mesmo problema — sobretudo devido às lesões que devastaram o elenco desde 2023.
Conhecido por contratar meio-campistas e atacantes a toque de caixa, Florentino Pérez nunca foi um grande entusiasta de gastar dinheiro com defensores. Essa predileção pelo setor ofensivo deixou o elenco muito curto nas posições de defesa,
Na conquista da Champions League de 2023-24, Ancelotti teve de lidar com uma longa lesão de David Alaba e com ausências pontuais de Ferland Mendy. A solução foi usar o volante Eduardo Camavinga na esquerda.
Na direita, Daniel Carvajal era titular absoluto. Só que, quando lesionado ou suspenso, não tinha um substituto à altura. Cabia a Nacho, um zagueiro de origem, ou a Lucas Vázquez, um ponta, cobrirem o setor. O brasileiro Éder Militão também quebrou um galho por ali, lembrando os tempos de São Paulo.

Em sua última temporada, Ancelotti teve ainda mais problemas: Nacho deixou o clube, Militão e Carvajal romperam ligamentos do joelho. E o italiano lançou moda: colocou Federico Valverde, um dos melhores volantes do mundo, para jogar na lateral-direita. O uruguaio foi bem quando atuou no setor.
Caso queira improvisar nas laterais do Brasil, uma opção já aparece no horizonte: usar Miltão como lateral-direito. O zagueiro ainda se recupera de lesão, já voltou a treinar e poderia ser chamado na convocação para a Data Fifa de setembro.
O atual cenário da seleção, com Vanderson e Wesley na lateral-direita, Alex Sandro e Carlos Augusto na direita, pode não ser o melhor da história. Mas é bem melhor do que Ancelotti teve de enfrentar nos últimos anos em Madri.

Meio-campo que não controla o jogo
A goleada sofrida contra a Argentina, por 4 a 1, escancarou um problema que a seleção arrastava desde a Copa do Mundo de 2022: um meio-campo que tem dificuldades para manter a bola e controlar o jogo.
Há um momento da carreira de Ancelotti em que ele teve de lidar com problemas parecidos. E ele conseguiu desenhar uma solução que deu certo e acabou com um título da Champions League.
Foi no Milan, na temporada 2006-07. Depois de perder Andriy Shevchenko, o técnico queria encontrar uma maneira de escalar seus melhores jogadores e de dar espaço para que Andrea Pirlo, o meio-campista de melhor passe longo, desse ritmo às partidas.
Foi então que ele consagrou um esquema tático que havia sido usado no futebol inglês dos anos 1990: o 4-3-2-1, conhecido como "Árvore de Natal". A ideia era ter uma linha de três meio-campistas: Pirlo como um "armador recuado", Gennaro Gattuso e Massimo Ambrosini na contenção e pressão.
Alguns metros à frente, dois meias criativos — Kaká e Seedorf; e no comando de ataque, Filippo Inzaghi.
O conceito de ter um jogador de passe longo excepcional atuando como armador recuado foi repetido no Real Madrid anos depois. Embora em outro desenho tático, Toni Kroos atuava mais recuado e tinha ajuda de Casemiro na proteção da defesa.
Com a volta de Casemiro à seleção, um conceito parecido poderia ser replicado, com o volante do Manchester United exercendo a mesma função. Caberia a Ancelotti encontrar quem exercesse a função de armador recuado, realizada por Pirlo no Milan e Kroos no Real Madrid. Andreas Pereira, Bruno Guimarães e Gerson aparecem como candidatos.
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