Isolamento, papo com Ancelotti e final europeia: como Casemiro virou o jogo

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Em março de 2024, às vésperas da estreia de Dorival Júnior no comando da seleção brasileira, Casemiro tomou uma atitude incomum. Ele dirigiu três horas, de Manchester a Londres, para ver os colegas, conversar com o treinador e falar sobre o futuro.
Dias antes, o volante havia sido cortado por causa de uma lesão muscular. Numa conversa no hotel de concentração, Dorival prometeu a ele que, quando estivesse recuperado, voltaria a ser chamado.
A promessa nunca foi cumprida.
Casemiro saiu das listas de convocações, viu a Copa América nos Estados Unidos — mas em sua casa, e não junto do restante do grupo —, e sentiu-se carta fora do baralho. Mais de uma vez, comentou em conversas privadas que o ciclo na seleção parecia ter chegado ao fim.
Um ano e dois meses depois, a situação é bem diferente: aos 33 anos, o meio-campista superou uma fase ruim no Manchester United e voltou a ser parte importante do time; nesta quarta-feira, às 16h (horário de Brasília), enfrenta o Tottenham na decisão da Europa League e pode fechar uma temporada complicada com um título, o seu terceiro no clube.

Na seleção, o cenário também mudou. Casemiro já sabe que será peça-chave no trabalho de Carlo Ancelotti, treinador italiano que assumirá a equipe pentacampeã na segunda-feira. Nos últimos meses, ele falou com o futuro técnico mais de uma vez: respondeu perguntas, deu conselhos e colocou-se à disposição para ajudar.
Um dos líderes da seleção na última década, o volante não era importante apenas em campo. Ele também tinha influência no vestiário e no trato com dirigentes: falava diretamente com os cartolas e era muitas vezes o porta-voz dos colegas em negociações. Um perfil que, segundo os próprios jogadores, fez e faz falta.

Zagueiro, reserva e "isolado"
Os 14 meses que separam o Casemiro que ouviu uma promessa de Dorival e o que deve ser convocado por Ancelotti foram difíceis. A pessoas próximas, o jogador afirma que foi a fase mais complicada de sua carreira na Europa — só comparável à reta final no São Paulo, quando foi criticado por parte da torcida.
Além de perder a faixa de capitão, a vaga de titular e até a possibilidade de formar parte do grupo da seleção, Casemiro também viveu dias difíceis no Manchester United. Sob o comando de Erik ten Hag, jogou até como zagueiro improvisado e, fora de sua posição, sofreu; depois, com Ruben Amorim, foi avisado pelo português que seria reserva.
Em vez de reclamar na imprensa, Casemiro optou por trabalhar em silêncio. As redes sociais, tradicional refúgio de quem tem muito a dizer, não eram uma opção: desde o ano passado, ele limitou o uso de todas as plataformas — os posts pós-jogo são a exceção.
A ideia do jogador era isolar-se de comentários tóxicos e críticas desrespeitosas, focando o tempo em trabalhar para recuperar a posição no clube. Deu certo: se em janeiro de 2025 ele só jogou 18 minutos, em fevereiro ele voltou a ter chances no time titular. E a partir de abril, na reta final da temporada, passou a ser decisivo.
Na incrível vitória por 5 a 4 sobre o Lyon, nas quartas de final da Europa League, Casemiro deu duas assistências e foi o destaque do time, num dos jogos mais impressionantes de toda a temporada. Nas semifinais, marcou duas vezes — uma em cada duelo — diante do Athletic Club, levando o time à final.
Quando a bola rolar diante do Tottenham, em Bilbao, Casemiro terá mais do que uma final pela frente. A chance do 23º título na carreira também representa a volta dele aos grandes palcos europeus, e uma parte importante do caminho de retorno à seleção.
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