Sem estrelas e em guerra, seleção africana enfrenta milionários por Copa

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A África terá 9 vagas diretas na Copa do Mundo de 2026, a primeira da história com 48 seleções. O aumento da presença africana no torneio é a chance de seleções menos conhecidas chegarem ao sonho de participar da maior festa do futebol.
Só que, depois de quase metade do caminho percorrido na primeira fase das Eliminatórias, uma equipe chama a atenção. É o Sudão, que supera todas as expectativas de surpresa e não estava nas listas nem de favoritos, nem da segunda prateleira e nem mesmo entre os que poderiam surpreender.
Olhando apenas o fator esportivo, a seleção sudanesa tem algo que a difere de forma definitiva na comparação com as maiores rivais continentais: nenhum jogador é conhecido do público fora do continente.
Mais do que isso: não há um único atleta que atue no futebol europeu — a base da equipe é a liga nacional do próprio Sudão, além de equipes da Líbia, Irã e Tanzânia. O clube com mais convocados atualmente é o Al-Hilal Omdurman, maior campeão sudanês, com 29 títulos.
Um deles é o atacante Mohamed Abdelrahman, de 31 anos. Com 23 gols marcados, ele é o terceiro maior goleador da história da seleção — o recordista, com 27, é Nasr el-Din Abbas, atacante que atuou entre 1963 e 1972. Em 1970, o Sudão conquistou seu único título da Copa Africana de Nações.
Apesar do triunfo regional há 55 anos, a seleção sudanesa jamais se classificou para uma Copa do Mundo; só passou perto em 1970, quando chegou a um triangular final, com Marrocos e Nigéria, mas acabou em terceiro. Os marroquinos ficaram com a única vaga africana.

Milionários e guerra civil
A história de fracassos pode estar perto de mudar. O Sudão lidera o Grupo B das Eliminatórias Africanas, com 10 pontos em quatro rodadas — venceu a República Democrática do Congo, o Sudão do Sul e a Mauritânia, e empatou com Togo.
No sábado (22), às 16h (horário de Brasília), os sudaneses têm o jogo mais difícil e decisivo até agora: enfrentam o vice-líder Senegal (8 pontos).
Potência africana desde o início do século, a seleção senegalesa tem um elenco estrelado, com uma mistura de jogadores que têm salários milionários na Liga Árabe — casos de Sadio Mané, Kalidou Koulibaly e Édouard Mendy — e atletas que atuam em tradicionais clubes europeus, como Pape Sarr (Tottenham), Idrissa Gueye (Everton) e Krépin Diatta (Monaco).
A discrepância financeira é óbvia: o salário anual de Mané, de 40 milhões de euros (R$ 240 milhões), supera os vencimentos de todos os jogadores sudaneses com sobras.
Além do fator econômico, há uma questão social que cria um abismo ainda maior. O duelo acontece na Líbia, refúgio encontrado pelo futebol sudanês para evitar os conflitos de uma guerra civil que assola o país desde 2023.
Uma eventual vitória colocaria o Sudão com 5 pontos de vantagem sobre os senegaleses, favoritos no grupo. O duelo seguinte, ainda nesta Data Fifa, será contra os vizinhos do Sudão do Sul, equipe mais fraca da chave. O campeão do grupo tem vaga direta — após os dois jogos, restariam quatro rodadas.
Sem estrelas internacionais e em meio a uma guerra civil que o obriga a jogar fora do país, o Sudão faz o seu jogo mais importante das últimas décadas. E pode escrever uma das histórias mais bonitas da Copa do Mundo-2026.
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