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OpiniãoEsporte

Discurso de ódio e xenofóbico durante evento na CBF foi assustador

Foram muito constrangedoras e vergonhosas, com uma deselegância e agressividade desnecessária, as falas do Emerson Leão e do Oswaldo de Oliveira no evento na CBF nessa terça-feira.

O Leão já está aposentado faz tempo, e a sua personalidade sempre foi essa: um cara que fala sempre com veemência, porque é o jeito dele desde quando era jogador. Convivi com ele no Corinthians e, às vezes, conversamos atualmente também. Penso totalmente diferente dele, inclusive nesse caso, na grande maioria das vezes, e para mim não foi surpreendente a sua fala de forma direta e agressiva.

Mas a do Oswaldo de Oliveira foi mal-educada, grosseira e carregada de ódio. Ele não falou com convicção; falou com a vaidade abalada e com o ego ferido, por isso a cara de ódio durante o seu "discurso".

A fala do Oswaldo parecia um discurso de ódio dos treinadores brasileiros contra os treinadores estrangeiros. Talvez para o Oswaldo ele não esteja trabalhando porque algum estrangeiro está tomando o seu lugar, mas a realidade é outra e muito dura de aceitar.

Eles ficaram para trás e ultrapassados, principalmente para treinarem a seleção brasileira. Carlo Ancelotti é o melhor e mais vencedor treinador do mundo nesse momento e não pediu para vir trabalhar no Brasil, não tomou o lugar de nenhum brasileiro e muito menos invadiu o "território dos treinadores brasileiros". E por ser muito educado, engoliu o constrangimento, mas sem dúvida ficou surpreso, porque viu pela primeira vez o ódio de alguns treinadores.

Não é por causa dos treinadores estrangeiros que o Oswaldo está desempregado. Por exemplo: Abel Ferreira é o melhor treinador que trabalha no Brasil e já venceu dez títulos com o Palmeiras em cinco anos. Fora o Filipe Luis e o Rogério Ceni, que para mim são os dois melhores treinadores brasileiros da atualidade, os mais bem preparados e que terão espaço em times europeus em breve, e quem sabe também na seleção brasileira; os outros ficaram para trás.

Os dois se prepararam para isso. O Filipe, por ter jogado muito tempo na Europa, sendo treinado por diversos grandes treinadores, tem uma metodologia europeia de trabalho e assimilou o melhor de cada um que o treinou. Enquanto o Rogério foi se preparando ainda quando jogava e se preocupou em estagiar no futebol europeu, visitando vários clubes e observando outros tipos de treinamentos e modos de jogar.

Uma fala do Leão, com que eu concordo, foi quando disse que a culpa da presença de treinadores estrangeiros por aqui é dos técnicos brasileiros. O cenário é claro e os fatos são evidentes: quantos treinadores brasileiros trabalham em grandes times fora daqui? Só o André Jardine, que faz um trabalho histórico no América do México. E vale citar o Tiago Nunes, que levou a LDU à semifinal da Libertadores.

Agora, os argentinos e uruguaios estão por todos os lados, porque já faz um bom tempo que deixaram os brasileiros vendidos. Perderam uma grande chance de mostrarem colaboração, apoio e receptividade ao estrangeiro que está trabalhando por aqui.

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Sem contar que tanto o Leão quanto o Oswaldo trabalharam bastante no exterior e, pelo que eu saiba, nunca foram tratados da forma que trataram o Ancelotti e do modo que falaram dos treinadores estrangeiros que trabalham no Brasil.

Felizmente a Federação Brasileira de Treinadores condenou a fala do Oswaldo de Oliveira e pediu desculpas ao Carlo Ancelotti. Espero que essas falas deles sejam fatos isolados e que não se caminhe para um movimento xenofóbico por parte dos nossos treinadores.

Opinião

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL.

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