Lô Borges me ensinou que os 'sonhos não envelhecem'

Acordei cedo e vi que o genial Lô Borges havia falecido. Estava acompanhando a sua situação, que não era boa em relação à sua saúde. Bom, amo de paixão a obra do Clube da Esquina, que, para mim, todos eles são geniais, e o Lô era um daqueles cujas letras mais mexiam comigo. Ele era um cruzeirense apaixonado, e essa sua paixão ele transmitia em letras e músicas. Mensagens que nos fazem refletir, emocionar, chorar, amar e ir em frente.
"Porque se chamavam homens,
também se chamavam sonhos.
E sonhos não envelhecem.
Em meio a tantos gases lacrimogêneos,
ficam calmos, calmos,
calmos, calmos, calmos."
Cresci ouvindo o Clube da Esquina e confesso que me apaixonei muito durante a minha vida com as músicas do Lô e seus parceiros tocando na minha cabeça.
"Se eu cantar, não chore não, é só poesia.
Eu só preciso ter você por mais um dia.
Ainda gosto de você.
Bom dia, como vai você?"
Uma vez, estava em Belo Horizonte para um trabalho numa feira literária e acabei indo à casa dele. Fiquei muito emocionado em conversar com ele sobre suas músicas, mas, na verdade, ele queria falar comigo sobre o Cruzeiro. E aconteceu o que sempre acontecia quando conhecia um dos meus ídolos da música: eu querendo falar sobre música, shows, letras, e eles sempre querendo falar comigo sobre futebol. É muito engraçada essa minha relação com a maioria deles que ama o futebol.
A trajetória do Lô Borges é uma das mais lindas da música, pela sua sensibilidade e facilidade de falar sobre isso de uma forma poética. É o estilo dessa turma maravilhosa que faz parte: Milton Nascimento, Beto Guedes, Flávio Venturini, Tavito, Fernando Brant, Toninho Horta, Wagner Tiso, Tavinho Moura e tantos outros músicos e compositores geniais que fizeram a trilha sonora das nossas vidas de uma maneira sonhadora.
Muita gente gravou suas músicas, e uma das mais marcantes foi no último álbum da linda Elis Regina, quando a sua voz explodiu com "Trem Azul":
"Coisas que a gente se esquece de dizer,
frases que o vento vem às vezes me lembrar.
Coisas que ficaram muito tempo por dizer,
na canção do vento não se cansam de voar."
Coisas lindas como essas fazem a gente se apaixonar por tudo e por todos. Lô, junto com seus amigos do Clube da Esquina, faz isso com a gente.
Em 2017, eu fiz um show em homenagem ao Adoniran Barbosa no Teatro Municipal de São Paulo, que foi lindíssimo. Um dos meus sonhos era fazer essa mesma homenagem com o Clube da Esquina. Cheguei a conversar com o Lô sobre isso, mas logo veio a pandemia e as conversas pararam.
Fiquei bastante triste com essa notícia porque, mesmo sabendo da gravidade da sua saúde, estava crente na sua recuperação. Sempre acredito na vida; não passa pela minha cabeça a morte de alguém, só a vida de alguém.
"Você pega o trem azul, o sol na cabeça.
O sol pega o trem azul, você na cabeça.
O sol na cabeça."
Morei em Poços de Caldas, Sul de Minas, e, apesar de ser muito perto de São Paulo, a cultura musical mineira, principalmente do Clube da Esquina, é muito forte. E lá eu me aprofundei mais na obra do Lô. Quero mandar um beijo para toda a família, seus amigos e para seu Clube da Esquina. Lô Borges me fez sonhar muito durante a minha vida e continuo sonhando, porque os nossos sonhos não envelhecem.





























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