Por que a verdade é contestada e a mentira é aceita no caso de Neymar?

Escolhi este título para a coluna deste sábado (18) devido à polêmica criada pelas falas sinceras e verdadeiras do técnico do Al-Hilal, Jorge Jesus, sobre o estado físico e clínico do Neymar.
Em nenhum momento, o treinador português colocou em dúvida a genialidade técnica do Neymar, aliás, nem as partes física e clínica, porque foi bem claro.
"O Neymar? Está difícil, não consegue acompanhar a gente na parte física."
É tão raro um treinador ir para uma coletiva de imprensa e jogar aberto com as respostas e, quando isso acontece, algumas pessoas começam a julgá-lo.
"Ele não deveria dizer isso, pois, se alguém se machucar de repente, ele pode acabar tendo que inscrever o Neymar no Campeonato Saudita ou em outras competições."
Qual foi a parte da história que não entenderam?
Ele foi claro, dizendo que o Neymar não está bem, não se recuperou legal até agora e que não irá mexer em seus jogadores que estão em boa forma física.
O Al-Hilal pretende contratar outro jogador para fazer o papel de líder técnico, algo que Neymar não conseguiu fazer por diversos motivos, principalmente pela grave contusão e pela agressiva cirurgia no joelho esquerdo a que foi submetido.
A recuperação do jogador é responsabilidade dele próprio, porque o fisioterapeuta e o preparador físico não têm como trabalhar se o atleta não está disposto a se sacrificar.
Sim. A fisioterapia, após a grave contusão e difícil cirurgia, requer muito sacrifício, entrega, persistência e dedicação. Estou relatando isso por várias experiências próprias.
Rompi todos os ligamentos do tornozelo e fraturei a fíbula na mesma jogada, no duelo entre Brondby-DIN x Porto, pelas quartas de final da Copa dos Campeões, na temporada 86/87, faltando só dois meses para uma possível final.
Fui operado no Porto e vim fazer a fisio no Corinthians.
Me deram um mês para recuperar a massa muscular e voltar para fazer a preparação física.
Fiz fisioterapia três vezes por dia, descansando só sábado e domingo.
O Porto foi para a final com o Bayern de Munique e eu consegui recuperar, mas não o suficiente para jogar a final.
Fiz o teste no dia anterior e ainda estava complicado para girar, mas vi do banco de reservas os meus amigos Juary e Rabah Madjer destruírem o Bayern.
Na pré-temporada com o Ascoli-ITA, pela temporada 88/89, rompi os ligamentos cruzados do meu joelho esquerdo, numa época em que nem existia uma cirurgia específica para essa contusão.
Fiz essa cirurgia super agressiva. Fiquei três meses sem pisar no chão, utilizando uma proteção na perna. Depois vim para o CT do São Paulo fazer a fisioterapia com o mestre Luiz Alberto Rosan.
Só consegui ver o tamanho dos cortes e a atrofia da minha perna quando o Dr. Peruggia, médico que me operou, tirou a proteção. Comecei a chorar, achando que não jogaria mais.
O Rosan fez um trabalho incrível, mas foi um tormento porque eram três horas pela manhã e mais quatro horas à tarde, sem pausa, para recuperar a massa muscular de uma perna totalmente atrofiada.
Me dediquei ao máximo e voltei a jogar em seis meses.
Foi recorde, mas deixou sequelas no meu joelho.
Fui pressionado a voltar porque o time estava correndo risco de cair para a Série B do Campeonato Italiano. Joguei os últimos jogos e conseguimos evitar a queda.
É importante reforçar que o fisioterapeuta e o preparador físico só conseguem fazer os seus trabalhos de verdade se o jogador se empenhar, caso contrário não ocorrerá nenhum milagre.
Já ficou muito claro que o foco e a determinação não são pontos fortes do Neymar.
Então, entram as falas do Jorge Jesus. Caso ele fosse à coletiva e falasse assim:
"Estamos esperando o Neymar porque ele é importante para o grupo e está se empenhando muito para voltar."
Todos iriam aplaudir e se entusiasmar, mas isso não é a verdade.
É o Jorge Jesus que vê o Neymar todos os dias nos treinos, é ele que sabe de verdade como ele está.
Vamos acreditar em quem fala a verdade.
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