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Débora Falabella está impecável no monólogo 'Prima Facie'

O meu texto de hoje será sobre "Prima Facie", uma peça de teatro incrível pelo roteiro, pela interpretação da atriz e pela importância do tema que é discutido nesse espetáculo. A peça foi escrita pela dramaturga, libretista, roteirista e advogada australiana Suzie Muller.

É um monólogo em que a talentosíssima atriz Débora Falabella interpreta a advogada Tessa, que tem entre seus clientes homens que cometeram crimes de estupro e os defende com muita competência. Só que, em um momento de euforia e comemoração por ter ganho uma causa junto com seus colegas do escritório de advocacia, fica totalmente vulnerável e também sofre um estupro.

A força com que Débora interpreta a personagem, que relata a sua história por ser uma advogada muito bem-sucedida, segura de si, e de repente se vê vítima de um crime que ela costuma defender, é impressionante. É uma peça em que a gente fica preso na história e na performance da Débora pela violência do crime e, muito, pelos conflitos internos que Tessa passa a ter.

Como todos os relatos que vejo sobre esse crime, as dúvidas que a mulher tem em relação ao que fazer, como agir e, obviamente, os julgamentos que ela enfrenta. A vítima passa a ser julgada, olhada com desprezo e sofre uma violência moral que é tão agressiva quanto a física que ela já sofreu.

A personagem se vê do outro lado da história porque, como toda advogada de defesa dos estupradores, ela também usa argumentos para desclassificar e colocar em dúvida a moral e a idoneidade da vítima, só que depois sente na própria pele as armas que usava.

O texto é forte e a presença de palco, a força da Débora, deixa tudo muito realista, não só porque uma mulher é estuprada a cada 10 minutos no Brasil, mas também porque ela faz com que todos que estão assistindo sintam a mesma dor que ela está passando para o público. É chocante por ser verdade, mexe e revolta, porque assistimos a um relato que, sem dúvida alguma, está acontecendo com algumas mulheres espalhadas pelo país naqueles exatos minutos em que estamos dentro do teatro assistindo ao espetáculo.

Fui com uma amiga e a maioria do público era de mulheres; você percebe no rosto de cada uma a dor de já ter passado por essa violência ou de ter alguém muito próximo que foi vítima de estupro. Eu, como homem, senti uma revolta dobrada por ter vergonha e indignação com quem comete esse crime violento, nojento e covarde.

"Prima Facie" volta ao Teatro Vivo (São Paulo) em fevereiro para mais uma temporada e recomendo esse espetáculo para todos, porque é um tema necessário e que pouco se discute, até porque tem muita gente que passa a mão na cabeça do criminoso e trata com desdém a própria vítima.

Prima Facie
Texto: Suzie Muller
Direção: Yara Novaes
Tradução: Alexandre Tenório
Cenário: André Cortez
Figurino: Fábio Namatame
Iluminação: Wagner Antônio
Trilha sonora: Morris
Consultoria jurídica: Maria Luiza Gomes e Mateus Monteiro
Assistente de direção: Ivy Souza e Renan Ferreira
Coordenação administrativa: Coarte
Assessoria de comunicação: Pedro Neves
Produção Executiva: Catarina Milani
Direção de Produção: Édson Fieschi e Luciano Borges
Diretor do Teatro Vivo: André Acioly

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Para terminar, quero destacar que a interpretação da Débora Falabella é uma das mais fortes, impressionantes e verdadeiras que já vi em um monólogo sobre um tema tão pesado como é o estupro.

Opinião

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL.

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